• qui. jan 23rd, 2025

3G tinham influência e controle sobre contabilidade, diz ex-CEO das Americanas à CPI; veja íntegra

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O ex-CEO das Americanas Miguel Gutierrez encaminhou, na noite desta segunda-feira (4), uma manifestação de 17 páginas à CPI das Americanas.

Nela, ele diz que os acionistas controladores da varejista — os chamados 3G (Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira) — participavam ativamente da gestão das empresas que têm, e que tinham influência e controle sobre a contabilidade da empresa.

“Como é notório, e como consta inclusive do famoso livro que conta a sua trajetória empresarial, o 3G participa ativamente da gestão das empresas de seu portfólio e controla rigorosamente suas finanças”, afirmou.

No caso da Americanas, isso ocorre não apenas por meio da presença dos controladores (ou de pessoas diretamente ligadas a eles) no conselho de administração ou no comitê financeiro, e da forte presença de membros desses órgãos no dia-a-dia da companhia (especialmente na área financeira), mas também através da sua holding LTS, cujos funcionários, ainda que não tivessem cargos oficiais na companhia, participavam de sua gestão e de seus acompanhamentos

Miguel Gutierrez

Gutierrez fala também que, “como em todas as suas companhias, havia uma intensa pressão por resultados positivos, controle rígido de despesas (mediante ‘aperto’ comercial em cima de fornecedores) e incentivo ao ‘fanatismo’ de seus executivos e funcionários pelo trabalho incessante”.

“Eu nunca soube, porém, que essa pressão teria levado a atos de manipulação da contabilidade – que era um setor, aliás, como detalharei a seguir, sobre o qual os controladores tinham forte influência e controle”, completou.

A CNN procurou a assessoria da Americanas e as assessorias de cada um dos 3G (Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira), mas eles ainda não retornaram.

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Decisões dos 3G

O ex-CEO declarou ainda que as movimentações relevantes eram tomadas por eles. “Todas as decisões estratégicas na história do grupo, inclusive nos últimos anos, foram tomadas pelos controladores. Foi assim com a decisão pela criação do chamado ‘Universo Americanas’ em 2018, a fusão entre Lojas Americanas e B2W, a minha saída da companhia até o final de 2021 (adiado pela pandemia para fim de 2022), a contratação do Sr. Sérgio Rial como meu sucessor, as aquisições realizadas entre 2021 e 2022 etc.”

Gutierrez diz entender que se tornou um “conveniente bode expiatório para ser sacrificado em nome da proteção de figuras notórias e poderosas do capitalismo brasileiro”.

Sugere ainda haver pessoas que em vez de estarem lutando para salvar a Americanas, estão apostando em “cortinas de fumaça que estão sendo erguidas por grupos que deveriam estar lutando pela sua salvação, mas cuja prioridade é proteger seus próprios interesses, seu patrimônio e a sua reputação”.

Ele encaminhou o documento sob a alegada justificativa de não poder comparecer presencialmente à CPI por estar em tratamento de saúde fora do país.

Gutierrez acusa a atual gestão da empresa de nunca ter lhe procurado para que prestasse esclarecimentos. “Até a publicação do fato relevante de 13/06/2023 (quando fui levianamente acusado de participar de uma fraude), não tinha sido procurado por ninguém da companhia, nem mesmo pelo comitê independente por ela constituído para investigar os fatos – a despeito de, através de advogados, por três vezes ter me colocado expressamente à disposição do comitê”.

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Comitê independente

O ex-CEO diz que as acusações do atual diretor-presidente da empresa, Leonardo Coelho, à CPI no dia 13 de junho tiveram objetivo de “proteger o conselho de administração (que se mantém inalterado) e os acionistas controladores”.

Declara também que ” (i) o processo de “investigação” interna que resultou naquela acusação foi nulo (na verdade, inexistente) e que, (ii) em todo caso, as acusações são falsas, na medida em que os documentos não demonstram a minha participação em “fraude” alguma”.

Acrescenta que “o comitê independente não teve nenhuma participação na acusação que a companhia fez contra mim, como o próprio comitê fez questão de esclarecer, em carta a mim enviada” e que “o fato demonstra que a intenção da Americanas sempre foi culpar a antiga diretoria (e a mim, principalmente), para proteger o conselho de administração e os controladores”.

“Na mesma carta, o comitê esclareceu que não teve nada a ver com a “investigação” conduzida em paralelo pela administração da companhia, que resultou naquela acusação contra mim. Portanto, as acusações de 13/06/2023 não contaram com a participação ou com o aval do comitê independente que a Americanas constituiu para investigar os fatos de que fui acusado!”, complementa Gutierrez.

Aponta ainda que o relatório do comitê independente é nulo pois foi elaborado por bancas de advocacia que atendem há muito tempo a Americanas, não tendo portanto, a seu ver, independência.

“O “relatório” que embasava a acusação contra mim fora elaborado pelos escritórios BMA Advogados e Vilardi Advogados, sendo que pelo menos o primeiro é, notoriamente, o principal escritório que representa de forma frequente, e há décadas, os acionistas controladores da companhia! Portanto, os subscritores do relatório não têm a independência necessária para realizar qualquer análise sobre responsabilidades pelo que ocorreu na Americanas, uma vez que eles certamente estariam impedidos de acusar seus clientes”, afirma.

Ele diz que o relatório tem “Alegações falsas contra mim, baseada em documento que não demonstram minha participação em uma fraude”.

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Problemas financeiros

De acordo com ele, os problemas financeiros da Americanas não tiveram motivação contábil. “Se intensificou nos meses finais de 2022, logo antes de minha saída, mas que não tinha nenhuma relação com qualquer problema de ordem contábil (que não era de meu conhecimento), senão com problemas decorrentes da fusão da empresa de lojas físicas (Lojas Americanas) com a empresa de vendas digitais (B2W), com a redução do volume de vendas, com o aumento desenfreado do consumo de caixa, que levavam à necessidade iminente de captação de novos recursos, sob pena de sérios riscos à sua continuidade”.

Ele afirma ainda que “não era meu papel, na governança da Americanas, tratar de questões contábeis. Para isso, a companhia contava com áreas especializadas e sistemas de controle estruturados, dos quais eu não participava diretamente”.

“E além de aquele não ser meu papel, esclareço que nunca participei, autorizei, ordenei, tolerei ou tive conhecimento de qualquer ato tendente a manipular a contabilidade da companhia ou a viabilizar qualquer tipo de fraude (como, por exemplo, a emissão de cartas falsas para simular verbas de propaganda cooperada com fornecedores). Diante das estruturas de governança e controle existentes, nem mesmo teria como eu ter essa ingerência e não eram essas minhas funções. Refuto veementemente, assim, qualquer acusação de fraude contra minha pessoa.”

Fonte: CNN Brasil

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