Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul e pré-candidata do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos para as eleições de 2024, criticou duramente os outros pré-candidatos do partido em um sabatina (chamada de Townhall, em inglês) da CNN em Iowa no domingo (4).
Para Haley, o ex-presidente Donald Trump, ex-chefe de Haley quando ela serviu como embaixadora dos EUA na ONU, errou ao defender as ações de seus apoiadores no Capitólio em 6 de janeiro de 2021, que ela chamou de “dia terrível”.
Ainda segundo a republicana, o governador da Flórida, Ron DeSantis, é hipócrita ao gastar dólares dos contribuintes em uma batalha judicial com a Disney sobre algo que começou como acordo político.
“Toda essa vingança? Já passamos por isso”, disse Haley, atacando os dois rivais ao mesmo tempo.
A ex-governadora defendeu firmemente o envolvimento dos Estados Unidos na guerra da Ucrânia com a Rússia, um ponto nebuloso para Trump e DeSantis.
Além disso, ela se referiu várias vezes ao seu mandato na Carolina do Sul, elogiando seus esforços para remover a marca dos confederados da bandeira do estado, a aprovação de leis de identificação de eleitores e outras conquistas.
Haley destacou que apoiará quem ganhar a primária presidencial republicana, mas completou: “Eu não concorro pelo segundo lugar. Nunca fiz isso e não vou começar agora”.
Veja abaixo os principais pontos da sabatina com Nikki Haley
Diferentemente de Trump e DeSantis, Haley defende a Ucrânia
Enquanto Trump e DeSantis viraram notícia com suas posições sobre a invasão russa da Ucrânia, Haley fez uma defesa do envolvimento contínuo dos EUA na guerra, argumentando que a vitória da Rússia iria desencadear uma crise global ainda mais mortal.
“Isso vai muito além da Ucrânia. É uma guerra que trata da liberdade e temos de vencê-la”, disse Haley durante sabatina da CNN.
Os comentários da ex-governadora representaram uma clara ruptura com Trump, que a nomeou embaixadora nas Nações Unidas e muitas vezes elogiou o seu bom relacionamento com o presidente russo Vladimir Putin – um homem que agora ela rotulou de tirano.
“Para aqueles que dizem que isso é apenas uma disputa territorial, afirmo que não é o caso”, acrescentou Haley em uma frase destinada a DeSantis, que chegou a classificar desta maneira a guerra no início.
Haley também criticou Trump por parabenizar o líder norte-coreano Kim Jong Un na semana passada, depois que o país, que vive uma ditadura, foi eleito para o conselho executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Parabenize nossos amigos, não parabenize nossos inimigos”, cutucou Haley, que ao mesmo tempo chamou a OMS de “farsa”.
Ainda assim, as palavras mais afiadas da ex-governadora sobre a política externa foram dirigidas a Joe Biden, a quem ela culpou por montar o cenário para a agressão russa ao lidar mal com a retirada das tropas dos EUA do Afeganistão.
“Temos caos em todos os lugares e nada disso teria acontecido”, pontuou, não fosse a desajeitada – e mortal – retirada do país que os EUA invadiram em 2001.
Haley explica o papel da esfera federal no aborto
Nikki Haley ressaltou que acredita que há um “papel federal” na restrição dos direitos ao aborto. Mas ela não respondeu diretamente às perguntas sobre em que ponto da gestação o aborto seria considerado ilegal em seu possível mandato.
Em vez disso, ela disse que buscaria um consenso que poderia ultrapassar o limite de 60 votos da Câmara e do Senado para acabar com a obstrução dessa pauta no Poder Legislativo.
Segundo ela, a medida de consenso incluiria a proibição de abortos tardios, o incentivo a adoções, a disponibilização mais ampla de contraceptivos e a confirmação de que as mulheres que fazem abortos não seriam presas.
“Não podíamos começar por aí? Porque o que os políticos e o que os meios de comunicação têm feito é demonizar a situação, quando na verdade é algo tão pessoal que temos que humanizar a situação”, pontuou. “Nosso objetivo deve ser sempre salvar tantos bebês quanto pudermos e apoiar tantas mães quanto possível”, adicionou.
A republicana disse que é “pró-vida sem pedir desculpas por isso”, porque seu marido foi adotado e ela “teve problemas para ter os dois filhos”.
Mas, Haley acrescentou: “Eu não julgo ninguém por ser pró-escolha da mesma forma que não quero ser julgada por ser pró-vida”.
Haley ataca as leis de “bandeira vermelha” contra armas
A primeira vez que pré-candidata ficou incomodada foi ao tratar do tema das restrições de armas conhecidas como leis de “bandeira vermelha”. Essas são regras que permitem que autoridades retirem temporariamente armas de fogo de pessoas que um juiz tenha considerado uma ameaça para si ou para outros.
Populares nos estados democratas, elas irritaram muitos republicanos e defensores dos direitos das armas.
“Eu não confio no governo para lidar com as leis de bandeira vermelha. Eu não confio que eles tirarão [as armas] de pessoas que merecem por direito tê-las. Porque, nesse caso, há uma outra pessoa julgando se alguém deve ter uma arma ou não.”, disse Haley.
Com o número de chacinas nos EUA se aproximando de números recordes, e com os republicanos bloqueando os esforços para mudar as leis a nível federal, os democratas têm tentado restringir cada vez mais o acesso a armas a nível local.
Os apoiadores das medidas argumentam que, num forte contraste com o ponto de vista de Haley, as leis colocam mais poder nas mãos de cidadãos comuns – especialmente aqueles que são mais propensos a ser vítimas de violência com armas de fogo.
A governadora democrata do Michigan, Gretchen Whitmer, disse recentemente que as leis de bandeira vermelha ou “ordens de proteção de risco extremo (…) comprovadamente reduzem suicídios, salvam vidas e mantêm armas fora das mãos de agressores domésticos e criminosos violentos”.
Haley questiona os líderes do Partido Republicano sobre as promessas de Segurança Social e Medicare
Haley acusou Trump e DeSantis de não se alinharem com os americanos sobre a sustentabilidade de programas populares como o Medicare (a assistência médica para idosos e algumas classes de doentes crônicos) e o sistema de Segurança Social, argumentando que grandes mudanças precisam ser feitas para manter ambos no azul.
“Eu acho que eles não estão sendo honestos com o povo americano”, disse Haley sobre seus principais rivais do GOP (apelido do Partido Republicano). Os dois pré-candidatos prometeram não mexer nos direitos.
Em seguida, Haley disse que iria aumentar a idade de aposentadoria para os trabalhadores que hoje ainda estão na casa dos 20 anos e limitar a concessão de benefícios da Segurança Social e Medicare para que não cheguem aos americanos mais ricos.
Comentários recentes à parte, as propostas de orçamento do governo Trump incluíram cortes em tais programas sociais. DeSantis já expressou apoio para privatizar o Medicare e a Segurança Social durante sua primeira campanha para o Congresso em 2012.
“Não podemos continuar empurrando isso com a barriga. E eu sei que Trump e DeSantis disseram que não vamos lidar com a reforma do direito aos benefícios. Bem, estão deixando tudo para o próximo presidente e isso está colocando muitos americanos em apuros”, afirmou a ex-governadora.
Em um comunicado, a equipe de resposta rápida do DNC, o Comitê Nacional do Partido Democrata, acusou Haley de “fazer campanha descaradamente para acabar com a Segurança Social e o Medicare como temos hoje, o que prejudicaria famílias trabalhadoras e idosos em todo o país”.
“Acho que foi um dia terrível”
Haley disse que seu ex-chefe, Donald Trump, está errado em defender os eventos de 6 de janeiro de 2021, data em que seus apoiadores se rebelaram no Capitólio dos EUA enquanto o Congresso contava os votos do colégio eleitoral.
“Ele acha que foi um dia lindo; eu acho que foi um dia terrível. Sempre terei essa posição”, afirmou.
Haley não repetiu as teorias da conspiração que Trump e seus apoiadores espalharam sobre as eleições de 2020, e reconheceu que “o presidente Biden é o presidente”.
Ela disse, no entanto, que os esforços para expandir o acesso à votação durante a pandemia em 2020 foram problemáticos, embora não isso não tenha mudado o resultado das eleições de 2020.
Haley destaacou endossar leis de “integridade eleitoral”, como requisitos de identificação de eleitores que muitos estados liderados por republicanos defendem desde então. Muitos críticos disseram que essas leis tornarão a votação mais difícil para algumas pessoas, especialmente grupos marginalizados.
“Acho que é importante que os eleitores queiram ter integridade eleitoral. É o mais importante”, continuou. “Nada pode ser pior que um país e seus cidadãos não confiarem no sistema eleitoral.”
Haley bate em DeSantis sobre caso Disney
No momento em que o confronto de DeSantis com a Disney vai para o tribunal, Haley descreveu a luta do governador da Flórida com a empresa de entretenimento como um sinal de “hipocrisia”. Ela criticou o governador por usar fundos públicos para resolver um rancor privado.
Observando o relacionamento que DeSantis já era complicado com a Disney e seus principais executivos, Haley disse que a mudança de posição repentina do governador (após a oposição da Disney à sua legislação conhecida como “Não diga gay”) era insignificante e um desperdício de recursos.
“Porque eles [a Disney] o criticaram, agora ele vai gastar dólares dos contribuintes em um processo”, disse Haley, antes de adicionar um ataque que poderia muito bem ter sido destinado a Trump também. “Todas essas coisas de vendetta [vingança], nós já passamos por isso. Nós não podemos passar por isso de novo”.
“Pegue o telefone, faça um acordo como se deve”, opinou.
A ex-governadora da Carolina do Sul não culpa DeSantis pela lei em si, dizendo que teria ido mais longe do que os republicanos da Flórida fizeram no projeto original ao proibirem “discussão em sala de aula sobre orientação sexual ou identidade de gênero (para jovens estudantes)”, como seus autores escreveram em um preâmbulo.
“Eles não devem falar com nossos filhos sobre gênero, ponto final. Isso é coisa para os pais conversarem com os filhos”, disse Haley se referindo aos professores.
Haley diz que vai acabar com as exportações de tecnologia para a China
Nikki Haley apostou em uma posição dura com a China, dizendo que o país “sem dúvida é a nossa ameaça de segurança nacional número um”.
Ela disse que não procuraria restringir o comércio com a China de bens de consumo e produtos agrícolas. Mas que procuraria interromper as exportações americanas de equipamentos de tecnologia para a China.
Segundo ela, a pandemia do coronavírus revelou a dependência excessiva dos Estados Unidos em produtos chineses.
“Ao me tornar presidente, vou focar na seguinte questão desde o primeiro dia: se a China cortar todos os laços conosco amanhã, nós estaríamos prontos? Estaríamos seguros?”, questionou.
A pré-candidata disse que sancionaria a China por seu papel no fornecimento do analgésico fentanil que chega aos Estados Unidos, muitas vezes via cartéis mexicanos.
“A coisa que eles mais detestam é quando mexemos na carteira”, opinou.
No entanto, ela não endossou a posição do presidente Joe Biden de que as forças dos EUA defenderiam Taiwan se a China invadisse.
“Não, nós temos de ter certeza de que eles têm o equipamento, a munição e o treinamento para ganharem sozinhos”.
Convocação militar do marido
Durante a sabatina, Haley também falou sobre a ida de seu marido militar, Michael, para servir no exterior. A convocação dele foi anunciada na semana passada.
A ex-governadora brincou que o marido “parece encontrar momentos realmente interessantes” para ser chamado para servir.
“Estamos muito orgulhosos”, disse Haley, observando que seu marido, major na Guarda Nacional do Exército da Carolina do Sul, também foi convocado quando ela era governadora. “As convocações nunca são convenientes, mas são necessárias”.
Haley também dirigiu uma mensagem a outras famílias militares, elogiando sua resiliência, e dizendo que era trabalhos deles (e dela) “manter tudo bem na frente doméstica”.
Ao falar de seu relacionamento, Haley descreveu-o como apoio mútuo e um modelo para outras famílias militares.
“Sou abençoada, porque sempre apoiei todas as maneiras com as quais ele quer servir ao país, e ele sempre apoiou todas as maneiras com as quais eu quero servir ao meu país. Então eu sou uma mulher de sorte”, disse Haley, acrescentando: “Digo isso para cada cônjuge de militar: nós podemos fazer isso”.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
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Fonte: CNN Brasil