Um agente da Polícia Federal (PF) admitiu que recebeu ordem para que colocasse um grampo na cela do doleiro Alberto Youssef em 2014. As informações são de Daniela Lima, da âncora da CNN.
Na segunda-feira (5), a CNN revelou o relato de um médico veterinário que estava preso na carceragem da PF em Curitiba no período, dizendo que viu a implementação da escuta em uma cela, tendo alertado Youssef. Ele alegou que teria sido forçado a mudar a versão dada à polícia.
O depoimento do policial Dalmey Fernando Werlang ocorreu no dia 4 de maio de 2015. Ele afirmou que seria responsável pelo “implemento das medidas de inteligência envolvendo equipamentos de captação de áudio e/ou vídeo que lhe” eram demandadas pela chefia.
Assim, teria recebido a visita de três delegados, que teriam solicitado o posicionamento de uma escuta em uma cela de custódia a ser designada pelo delegado Igor Romário, então chefe da Polícia Federal na Operação Lava Jato, e que isso estaria pré-acordado com outro agente.
No depoimento, Werlang também ressaltou que “como era de costume, muitas vezes esse tipo de demanda surgia, principalmente quando o preso Fernandinho Beira-Mar ficou preso anteriormente na carceragem da PF/PR”, tendo cumprido a ordem.
Ele relata que foi à carceragem na parte da tarde e que, junto a outra agente, colocou o equipamento na cela que seria ocupada por Alberto Youssef. O grampo foi deixado em cima do forro entre a lage.
A escuta funcionaria remotamente, segundo explicou Werlang, e que ele ficou encarregado de baixar o áudio captado a cada 24h, passando os arquivos para um pen drive, e entregá-lo para delegados da PF.
No relato, o agente também ressalta que não se lembra por quanto tempo realizou esse serviço, mas que não foi por um período longo. Enquanto isso, um delegado teria reclamado da qualidade do áudio.
Também explica que, quando foi desligar o equipamento, ele já havia sido encontrado pelos presos.
Após isso, o policial pontuou que, durante viagem a Minas Gerais, recebeu uma foto por WhatsApp da escuta, com um agente perguntando se era aquele o equipamento colocado na cela de Youssef. Ele deu indicativos de que seria.
De volta da viagem, o delegado Igor conversou com ele sobre o assunto. Werlang diz que perguntou se havia alvará para aquela situação, “sendo que o DPF Igor disse ‘pior que não’”. Assim, tomou ciência naquele momento que o grampo era “clandestina/ilegal”.
Em outro momento, o agente também observa que não foi chamado para depor na sindicância aberta pela Polícia Federal à época para investigar o caso, tendo apenas fornecido detalhes técnicos do equipamento.
Entre os nomes citados está Rosalvo Franco, então superintendente da Polícia Federal no Paraná durante um período central da Lava Jato, conforme explicou Renata Agostini, analista de Política da CNN. Ela também pontuou que ele chegou a participar do governo de transição de Jair Bolsonaro (PL), chamado por Sergio Moro.
Conforme informa Leandro Resende, analista de Política da CNN, o superintendente, em outro depoimento à PF, rebateu as acusações de Werlang, as classificando como inverídicas, e que não ordenou o posicionamento da escuta.
Também aparece o nome de Erika Marena, que foi chamada por Sergio Moro para participar do governo Bolsonaro durante seu período como ministro destaca Renata Agostini.
Segundo o documento obtido por Daniela Lima, Marena também foi ouvida sobre o caso, observando que não tinha conhecimento sobre a instalação ou utilização do equipamento e que a denúncia feita por Youssef “tem o único objetivo de tumultuar os trabalhos na custódia e reforçar eventual pedido de liberdade provisória”.
No documento com depoimentos, também está escrito que Igor deu “forneceu, em síntese, esclarecimentos bastante semelhantes aos prestados peal DPF Erika”.
*em atualização
*publicado por Tiago Tortella, da CNN
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Fonte: CNN Brasil