• qui. jan 23rd, 2025

Análise: ausência na cúpula do Brics indica horizontes cada vez menores para Putin

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Nas semanas anteriores à invasão e da Ucrânia pela Rússia, os líderes mundiais se revezaram em Moscou para pedir que o Kremlin recuasse e cancelasse planos para iniciar uma guerra.

Os esforços falharam. E Vladimir Putin, o homem que desencadeou a guerra, agora se depara com opções de viagens extremamente limitadas.

Isso pode parecer insignificante para um homem que governa um país que abrange 11 fusos horários. Putin tem uma porta aberta para Pequim, e os colegas do Kremlin na Ásia Central e Irã estendem o tapete de boas-vindas desde a invasão da Ucrânia.

E, claro, ele sempre terá Minsk. O bielorrusso Alexander Lukashenko, que forneceu à Rússia uma plataforma de lançamento para a invasão, também foi anfitrião de Putin.

Mas Putin estará ausente em um importante fórum global esta semana, a cúpula do Brics, em Johanesburgo. Sua ausência diz muito sobre o isolamento da Rússia – e os horizontes cada vez menores para Putin.

Os outros líderes do bloco – o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, o líder chinês Xi Jinping, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, – devem estar presentes.

No mês passado, o gabinete de Ramaphosa disse que Putin não compareceria “por acordo mútuo”. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, está substituindo-o, embora a mídia estatal russa tenha dito que Putin aparecerá por vídeo.

Realmente importa se Putin telefonar? Participar remotamente pode ser uma maneira conveniente de agir como um player no cenário global, mas Putin está perdendo mais do que uma foto em grupo.

Putin é defensor do que chama de “ordem mundial multipolar ”, promovendo estruturas –entre elas o Brics– como um contrapeso às instituições lideradas pelos EUA e Ocidente, que condenam a Rússia por sua guerra contra a Ucrânia.

Embora as ações da Rússia tenham trazido condenação ao Ocidente, a Rússia ainda vive uma campanha por apoio internacional, particularmente no sul global.

Reforçar esse apoio foi um dos principais objetivos da recente cúpula Rússia-África. A participação de líderes africanos pode ter decepcionado o Kremlin: menos da metade dos chefes de Estado compareceram ao evento do mês passado. Mas a política externa russa ainda conta com o apoio diplomático e político de países da África, América Latina América e Ásia.

Então, por que Putin perderia outra oportunidade de promover sua visão? Bem, para começar, há a questão não insignificante de um mandado de prisão do Tribunal Penal  Internacional (TPI) contra ele.

Em março, o TPI emitiu um mandado de prisão para Putin por causa de um suposto esquema para deportar crianças ucranianas para a Rússia. O mandado colocou a África do Sul em uma situação difícil: como signatária do tratado que rege o tribunal de Haia, a África do Sul é obrigada a prender indivíduos indiciados pelo tribunal.

É um pensamento mágico supor que Putin possa ser preso em Johanesburgo. Afinal, o então presidente sudanês Omar al-Bashir – que foi e continua sendo indiciado por crimes de guerra e crimes contra a humanidade ligados ao genocídio em Darfur – conseguiu evitar esse destino durante uma visita à África do Sul em 2015.

O Kremlin, é claro, se irrita com qualquer insinuação de que Putin está fugindo da cúpula do Brics por conta do mandado do TPI.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia consideraria a prisão de Putin como uma “declaração de guerra”.

Putin disse a jornalistas em 29 de julho que não achava que sua presença no Brics seria “mais importante do que na Rússia agora”, segundo a agência de notícias estatal TASS .

Independentemente do motivo, o não comparecimento de Putin à cúpula não é bom para Moscou.

A Rússia tenta avançar com uma campanha de relações públicas que apresenta a Rússia como uma potência firmemente anticolonial que apoia uma ordem mundial mais justa e equitativa.

Em uma entrevista recém-publicada, Lavrov disse “concordar que o conceito de dominação ocidental promovido pelos Estados Unidos e países subordinados não prevê o desenvolvimento harmonioso de toda a humanidade”.

A ironia aqui é muito rica. A Rússia, afinal, está travando uma guerra contra a Ucrânia, que Putin justificou em termos estritamente imperiais.

E o fim do mundo unipolar, na visão de Putin, parece significar que a Rússia pode ocupar a Ucrânia sem restrições pelas normas internacionais, sob a falsa bandeira da libertação.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Fonte: CNN Brasil

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