Quase três anos atrás, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, apoiou o presidente de Belarus, Aleksandr Lukashenko, em sua hora de necessidade, apoiando o ditador mais antigo da Europa enquanto ele enfrentava uma onda de protestos.
Agora, Lukashenko parece ter passado por Putin, se quisermos acreditar no que o Kremlin e o serviço de imprensa presidencial bielorrusso nos dizem.
Uma rápida recapitulação: uma grande crise abalou as fundações do estado russo no sábado (24), quando forças leais ao chefe mercenário do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, marcharam em direção a Moscou.
Então, uma reversão abrupta aconteceu – Prigozhin cancelou o avanço, alegando que seus mercenários haviam chegado a 200 km da capital, mas estavam se virando para evitar derramamento de sangue.
Segundo o serviço de imprensa presidencial bielorrusso, a decisão ocorreu após uma intervenção inesperada do próprio Lukashenko. O suposto acordo fechado com Prigozhin faria com que o chefe do Grupo Wagner partisse para a Belarus; que um processo criminal contra o chefe mercenário seria encerrado; e que os combatentes do grupo seriam agrupados em estruturas militares formais, mediante a assinatura de contratos com o Ministério de Defesa da Rússia.
Mas esses, vale enfatizar, são apenas os esboços do negócio. Prigozhin não comentou o suposto acordo, e o relato do Kremlin e de Belarus sobre a mediação de Lukashenko parece aumentar a credibilidade.
“Você provavelmente vai me perguntar: por que Lukashenko?”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, no sábado. “O fato é que Alexander Grigoryevich (Lukashenko) conhece Prigozhin pessoalmente há muito tempo, há cerca de 20 anos. E foi sua proposta pessoal, que foi acordada com o presidente Putin. Somos gratos ao presidente de Belarus por esses esforços.”
Esses esforços, afirmou Peskov, “conseguiram resolver esta situação sem mais perdas, sem aumentar o nível de tensão”. Ainda assim, a aparente intervensão de Lukashenko levanta mais perguntas do que respostas.
Para começar, Lukashenko é claramente visto como o sócio minoritário no relacionamento com Putin, enquanto Belarus depende da ajuda da Rússia. No auge do confronto de Lukashenko com os manifestantes, Putin conseguiu um empréstimo de US$ 1,5 bilhão.
Belarus tem sido um trampolim para as operações militares russas na Ucrânia, algo que isolou ainda mais Lukashenko do Ocidente e desencadeou novas sanções à economia do país.
Então, o que Lukashenko irá ganhar? Parece difícil imaginar Prigozhin feliz colhendo batatas ao lado do líder bielorrusso.
Do outro lado, por que Putin – que até este fim de semana era o árbitro confiável das disputas da elite na Rússia – não conseguiu fechar o acordo sozinho? Delegar Lukashenko para resolver a crise prejudica ainda mais a imagem de Putin como um homem de ação decisivo.
Os detalhes iniciais que temos, ao que parece, não se encaixam completamente, e somando-se a essa incerteza estão outras questões: o que acontecerá com a “marca” Wagner? Os soldados de infantaria de Prigozhin serão complacentes e se deixarão absorver pelas forças armadas russas? Eles ainda terão lealdade ao chefe? E as forças de Wagner operando em outras partes do mundo, da África ao Oriente Médio? Prigozhin – se e quando ele aparecer – pode nos dar algumas pistas.
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Chefe da grupo militar privado Wagner, Yevgeny Prigozhin, deixando o quartel-general militar russo em Rostov-on-Don, no sudoeste da Rússia, após acordo para recuo das tropas. Imagem de 24/6/2023
Crédito: Reprodução/Reuters -
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Após deixar Rostov, paradeiro de Yevgeny Prigozhin é desconhecido. Ele deve entrar no território de Belarus
Crédito: 24/06/2023Imagem obtida de vídeo. Serviço de Imprensa da “Concord”/Divulgação via REUTERS -
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Mercenários do grupo russo Wagner em processo para deixar Rostov-on-Don
Crédito: 24/06/2023REUTERS/Stringer -
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Nova imagem com combatentes do grupo mercenário em Rostov-on-Don. Antes de recuar, eles ameaçaram invadir Moscou
Crédito: 24/06/2023REUTERS/Alexander Ermochenko -
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Combatentes do grupo Wagner em Rostov-on-Don, após recuarem da ameaça de invadir Moscou
Crédito: REUTERS/Stringer -
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Combatentes do grupo Wagner em Rostov-on-Don
Crédito: 24/06/2023REUTERS/Stringer -
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Combatentes do grupo mercenário russo Wagner ganharam perdão do governo russo para encerrar rebelião
Crédito: 25/06/2023REUTERS/Stringer -
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O presidente russo, Vladimir Putin, classificou os mercenários de traidores, mas depois recuou no acordo ao oferecer perdão
Crédito: Colaborador/Getty Images -
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Moscou chegou a montar barricadas na espera do ataque dos mercenários do Wagner, o que não ocorreu
Crédito: 24/06/2023 REUTERS/Stringer -
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Antes de recuar, Yevgeny Prigozhin , chefe do Wagner, disse ter 25 mil soldados junto com ele
Crédito: 08/04/2023REUTERS/Yulia Morozova
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Fonte: CNN Brasil