A saúde primária teve um papel fundamental na ampliação da cobertura vacinal contra Covid-19 nos municípios brasileiros mais pobres, afirmou o médico e pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza, em entrevista à CNN Rádio.

O especialista coordenou a pesquisa publicada nesta semana na revista The Lancet Regional Health America que indica a desigualdade na vacinação entre os municípios brasileiros com menor índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e aqueles com IDH mais alto.

O estudo observa, no entanto, que as cidades de baixo IDH com maior presença de atenção primária na saúde se saíram melhor do que aquelas sem investimento nesse atendimento.

A pesquisa avaliou os primeiros seis meses da vacinação no Brasil, entre os meses de janeiro e agosto de 2021. Ao todo, os pesquisadores analisaram a dinâmica da cobertura vacinal na população adulta nos mais de 5 mil municípios do país. O estudo faz parte de um projeto chamado Effect Brazil que visa estudar a efetividade da vacinação no país.

“Muitas vezes, a gente olha a questão da Covid pensando em leitos de UTI e hospitalares. Mas, essas ações que ocorrem na comunidade no nível da atenção primária são tão ou mais importantes do que leitos para garantir o controle da pandemia”, diz o médico.

Bozza explica que o investimento em atenção primária, com construção de unidades de saúde e contratação de agentes comunitários, aproxima o sistema de saúde da população, em especial, daquela mais pobre.

A análise aponta que a comunicação direta com os cidadãos constrói um relacionamento a longo prazo de confiança no sistema de saúde, o que permite o avanço da vacinação.

“A pessoa vai desde criança no seu posto de saúde, conhece seu agente comunitário, que conversa e explica a importância da vacinação”, explica o médico.

Para o pesquisador da Fiocruz, o Brasil não aproveitou a capilaridade do Sistema de Único de Saúde (SUS) no combate ao coronavírus, sendo que alguns municípios não contavam com profissionais de atenção primária ou unidades de saúde suficientes.

Bozza ressalta que o resultado de falta de investimento é uma queda geral da vacinação não só contra Covid-19, mas também contra outras doenças que haviam sido erradicadas, como o sarampo.

*Sob supervisão de Joyce Murasaki, da CNN

Fonte: CNN Brasil