O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulga nesta quarta-feira (2) a decisão sobre a taxa básica de juros, em conclusão da reunião iniciada na na terça-feira (1º).
A expectativa tanto de mercado como de governo é que o Comitê promova um corte na taxa atual, de 13,75% ao ano, definida na reunião de agosto, quando foi reajustada em 0,25 ponto percentual. Desde então, o Copom tem decidido pela manutenção da taxa básica de juros, ao longo de sete reuniões seguidas.
Assim, o patamar de juros no país continua no maior nível desde dezembro de 2016.
Na última decisão, o comunicado do Copom citou “paciência e serenidade” com a condução da política monetária em relação à inflação.
“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
Expectativa
A decisão desta quarta-feira ocorre em meio à expectativa pelo corte na taxa, já que o governo vem pressionando o BC para a queda dos juros, assim como o setor produtivo.
Em seu mais recente comentário sobre o tema, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que espera “sensibilidade técnica” do Banco Central na redução de juros e que “todo mundo espera um corte” da Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Segundo o ministro, há espaço para um corte maior que 0,25 ponto percentual ainda em agosto.
“Se o governo paga esse juro real, quem está comprando uma geladeira paga mais, 20% a 30%, e não cabe no bolso. Tem um problema estrutural, precisa de uma sensibilidade técnica do BC para baixar. Todo mundo espera um corte em agosto. Antes o problema era “se” iria cortar, e agora é quanto. Eu penso que tem espaço para cortar mais que 0,25%, eu tenho certeza”, afirmou.
Haddad também afirmou que “tem uma coleção de fatores para a Selic baixar.”
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), também já indicou que espera que o banco central inicie seu ciclo de afrouxamento monetário. Na segunda-feira (31), em entrevista ao programa “Roda Viva”, da “TV Cultura”, disse que “o Banco Central já prezou pelo o que deveria fazer.”
“Não vejo ninguém com a vontade de manter os juros do tamanho que estão, quando todos nós sabemos dos efeitos de um juros nessas alturas. Eu penso que o presidente Roberto Campos [Neto], com a sua diretoria, está observando esses movimentos. O Banco Central deve estar atento”, afirmou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), chegaram a fazer “uma dobradinha” nas críticas aos altos juros no Brasil.
Nesta semana, Alckmin reforçou o coro por um corte de 0,5 ponto porcentual. “Entendemos que tem todas as condições para ter uma redução forte da taxa Selic. Acho que o Brasil está vivendo um bom momento e fazendo as reformas” declarou o vice-presidente.
O vice-presidente disse ainda que “a taxa de juros atual ‘não é razoável’”, e que “atrapalha a competitividade das empresas brasileiras“.
Dados da Opção de Copom da B3 — plataforma que permite a negociação de contratos da taxa de juros na bolsa brasileira – mostram que o mercado voltou a reforçar as apostas para um corte mais agressivo, após desaceleração das expectativas no fim da semana passada.
Os economistas ouvidos pelo Banco Central (BC) para o Boletim Focus desta semana mantiveram em 12% a estimativa para a taxa básica de juros ao fim de 2023, mas reduziram, pela segunda semana seguida, as projeções para a inflação, desta vez de 4,90% para 4,84%.
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O que é a Selic?
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, responsável por remunerar todos os títulos públicos, ou seja, os papéis da dívida do governo. O percentual da Selic influencia todas as taxas de juros do país, como as cobradas em empréstimos, financiamentos e até aplicações financeiras.
Crédito: Foto: Getty Images/tommy -
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O coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da FGV, Mauro Rochlin, explica que isso acontece porque a Selic é considerada a menor taxa de juros da economia e os títulos públicos são a aplicação financeira mais segura que existe.
“O governo pode emitir moeda, no caso do Brasil o real, para pagar a sua dívida e nenhum outro agente econômico no país é capaz de emitir moeda dessa maneira. Com isso, ele é visto como o devedor mais sólido”, explica.
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“Como o título público é visto como a aplicação financeira mais segura, a taxa de juros que remunera esse títulos públicos é sempre considerada a menor taxa de juros da economia, por uma questão de segurança”, completa o especialista.
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Como a taxa Selic é definida?
A Selic é definida unilateralmente pelo Banco Central (BC) através de uma reunião periódica do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre a cada 45 dias.
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O percentual definido em uma reunião vale por 45 dias, ou seja, a cada reunião a taxa pode ser mantida, elevada ou reduzida. Após a reunião do Comitê, que conta com a presença do presidente do BC, Roberto Campos Neto, e mais outros oito integrantes, é elaborado um documento muito importante para o mercado financeiro chamado ata do Copom.
Crédito: 07/03/2023 REUTERS/Adriano Machado -
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Nessa ata, os membros do Copom apresentam as principais informações que influenciam nos preços de ativos financeiros, bolsa, câmbio, juros futuros e a Selic. Ou seja, é um documento que sinaliza quais são os próximos movimentos do Banco Central, sendo fundamental na estratégia de investidores.
Crédito: Divulgação/ Banco Central do Brasil -
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Como a Selic impacta na economia?
A taxa Selic é uma das formas que o Banco Central tem para controlar a quantidade de crédito circulando na economia, sendo um dos elementos centrais da política monetária no Brasil, baseada em um sistema de metas de inflação.
Esse sistema emprega como compromisso do governo colocar medidas para manter a inflação dentro de uma faixa fixada periodicamente pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), evitando o descontrole de preços.
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Dessa forma, o objetivo da elevação da taxa nas reuniões do Copom é justamente desaquecer a economia e frear a inflação. No movimento contrário, quando a Selic baixa, ela acaba impulsionando a economia ao estimular o consumo.
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Como a Selic impacta o seu dinheiro?
A Selic é um indicador importante não só para a economia brasileira, mas também para o seu bolso. Isso por que ela representa o juro básico de toda a economia brasileira. Com isso, tem influência diretamente em todas as taxas de juros no país, por exemplo, a taxa de juros do seu cartão de crédito.
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Mauro Rochlin explica que o no momento em que o governo eleva a Selic, todas as demais taxas de juros da economia são “obrigadas” a também aumentar.
Crédito: Foto: Blake Wisz/Unplash -
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“Os demais emissores de dívidas, por exemplo, bancos que emitem aplicações financeiras como CDBS, LCIs, cadernetas de poupança e títulos de capitalização têm que oferecer uma taxa de juros maior do que aquela que está sendo oferecida pelo governo, porque os bancos ou mesmo as empresas não são vistos como devedores tão confiáveis como o governo”, afirma.
Crédito: alimentos e gastos domésticos também cresceram como motivo de reendividamento -
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Nível de consumo das pessoas
Sendo o governo um devedor mais confiável, os bancos vão aumentar as suas taxas de juros acima da Selic para conseguirem captar dinheiro. “Como eles vão ter que captar dinheiro a um custo mais alto, eles também vão ter que emprestar dinheiro a um custo mais alto”, diz o especialista.
Consequentemente, tudo isso tirá impactar no nível de consumo da população, já que quando aumenta a taxa Selic também aumenta a taxa de juros que os bancos e que as empresas oferecem para as pessoas. Com isso, as pessoas em vista dessa taxa maior vão preferir substituir o consumo pela poupança.
Crédito: d3sign/Getty Images
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Fonte: CNN Brasil