Especialistas consultados pela CNN indicam que a cooperação econômica é o principal elemento de alinhamento entre os membros dos Brics. As ações práticas implementadas no âmbito do bloco são capitaneadas pelo chamado “Banco dos Brics“.
Professor de Relações Internacionais da ESPM e economista, Roberto Georg Uebel indica que esta cooperação se baseia na “construção de uma arquitetura financeira alternativa” a instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Essas instituições não competem com FMI ou Banco Mundial, mas complementam essa agenda. O Banco dos Brics, por exemplo, financia projetos de infraestrutura no continente africano, asiático, na América Latina, com garantias diferentes das que são cobradas por FMI e Banco Mundial”, indica.
A cooperação do bloco na área financeira levou ao lançamento das duas primeiras instituições do mecanismo: o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e o Arranjo
Contingente de Reservas (ACR), aprovados na Cúpula de Fortaleza, em 2014.
O NDB possui capital inicial autorizado de US$ 100 bilhões e capital inicial subscrito de US$ 50 bilhões. A carteira ativa do NDB no Brasil ultrapassa US$ 5 bilhões.
Amâncio Jorge de Oliveira, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, reitera o papel do NDB para as ações práticas do bloco. Destaca ainda discussões que vem sendo desenvolvidas sobre “moedas alternativas ao dólar“.
Segundo o próprio governo brasileiro, a cúpula que acontece nos próximos dias terá ênfase em temas da agenda econômico-financeira do grupo, além das discussões sobre ampliação do quadro de membros.
Em divulgação à imprensa, a gestão federal indica que será debatida, por exemplo, a possibilidade da criação de unidade de valor comum em transações comerciais e de investimentos entre os membros do bloco.
“A discussão sobre a unidade de valor comum é embrionária. Essa unidade não visa a substituir as moedas nacionais, mas a projetar alternativa estável às moedas internacionais predominantes“, pontua divulgação do governo à imprensa.
Vanessa Braga, professora do curso de relações internacionais da FAAP, explica que, dentro do modus operandi do bloco, são instituídos grupos de trabalho para tratar de temas como Justiça, segurança e estratégia, finanças, comércio e investimento.
Entre as ações práticas, ela destaca que neste ano o Senado Federal autorizou o Brasil a contratar operação de crédito de até US$ 1 bilhão com o NDB para o financiamento de programa emergencial de acesso a crédito executado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A XV cúpula dos Brics acontece de 22 a 24 de agosto, em Joanesburgo, com as presenças dos presidentes Lula, Xi Jinping (China) e Cyril Ramaphosa (África do Sul) e do primeiro-ministro Narendra Modi (Índia).
Relações econômicas e políticas
Uebel destaca ainda que as relações bilaterais entre os países que formam os Brics se fortalecerem desde a criação do bloco.
“Acredito que o Brasil se beneficia dos Brics ao permitir aproximação com países que eram muito distantes, em um sentido bilateral. O Brasil aumenta suas trocas comerciais com estes países por meio dos Brics”, aponta.
“Isso não significa que os Brics se apresentem como um bloco econômico ou comercial. Como ele é um fórum, permite que uma vez por ano o governo e empresários brasileiros possam se aproximar deste mercado. É uma ponte”, completa.
Em 2022, de acordo com dados do governo, o Brasil exportou pouco mais de US$ 99 bilhões e importou US$ 78 bilhões, somando US$ 177 bilhões de trocas comerciais com os demais países do bloco. O saldo positivo foi de mais de US$ 21 bilhões.
No período de janeiro a agosto de 2023, o comércio total com demais membros do BRICS foi de US$ 102 bilhões, com saldo positivo de US$24 bilhões.
Vanessa Braga ressalta ainda que, ao chegar à presidência do NDB, Dilma Rousseff tem como objetivo “expandir a instituição“, para que haja mais países membros, e com isso mais cooperação econômica.
Para Uebel, a cooperação robusta, contudo, se limita a questões econômicas. “São cinco países com regimes completamente diferentes. O alinhamento político fica em terceiro plano”, indica.
Amâncio indica outro caminho e vê alinhamento em relação a questões relevantes para a geopolítica atual, como os posicionamentos sobre a invasão da Rússia à Ucrânia.
“Não teve uma ação objetiva, concreta, propositiva [dos Brics em relação à guerra], mas o discurso político dos membros dos Brics está desalinhado fortemente com a União Europeia, o que gera um impacto político muito importante”, conclui.
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Fonte: CNN Brasil