Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) no celular do ex-ajudante de ordens Mauro Cid mostram um coronel com assento no Estado-Maior do Exército clamando, em dezembro do ano passado, por um golpe de Estado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Os diálogos que constam no relatório da PF foram publicados pela revista Veja e confirmados pela CNN, que teve acesso à íntegra do documento.
Cid está preso desde o dia 3 de maio no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, e a situação dele agravou-se após a perícia em seu celular encontrar estas novas mensagens golpistas – que levaram o Exército a se posicionar, em nota, nesta sexta-feira (16), afirmando que “prima sempre pela legalidade e respeito aos preceitos constitucionais”.
Nas conversas, o coronel do Exército Jean Lawand Junior pede a Cid que convença Bolsonaro a dar um golpe de Estado.
Por exemplo, no dia 7 de dezembro do ano passado, Lawand Junior escreve: “Boa tarde irmão! Cadê a ordem Cid? Pelo amor de Deus. Convença o 01 a salvar esse país. Abraço.”
Cid não repreendeu o pedido golpista e respondeu: “Estamos na luta.”
A CNN mostrou previamente que o ex-ajudante de ordens já tinha mantido diálogos golpistas, por exemplo, com o ex-major do Exército e aliado bolsonarista Ailton Barros, e com o ex-número 2 do Ministério da Saúde e assessor da Casa Civil, coronel Elcio Franco.
Outros diálogos semelhantes entre Lawand Junior e Cid aconteceram em dezembro.
No dia 10 daquele mês, o coronel do Estado-Maior escreveu: “Cid, pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem! Se a cúpula do EB [Exército brasileiro] não está com ele, de divisão pra baixo está. Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus.”
O então ajudante de ordens da Presidência da República respondeu: “Muita coisa acontecendo… passo a passo… “. Lawand respondeu novamente: “Excelente.”
A Polícia Federal encontrou ainda um diálogo mantido entre a esposa de Cid, Gabriela Cid, com Ticiana Villas Bôas, filha do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, no dia 2 de novembro do ano passado – dois dias após o segundo turno das eleições.
Gabriela afirmou: “Temos que pedir eleições e voto impresso. Nada de intervenção federal. Temos que exigir novas eleições e voto impresso. Estamos diante de um momento tenso onde temos que pressionar o Congresso. Agora!”
Ticiana respondeu: “Ou isso, ou a queda de Moraes”, em referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Gabriela continua: “Também acho. Esse homem tem que cair. Ele que está estragando o país, o resto é tudo remediável.”
“Se a gente consegue tirar ele, o STF dá uma recuada. Porque o que eles vão fazer é prender o “PR”… com base no inquérito das Fake [News]”, respondeu Ticiana.
À CNN, aliados de Bolsonaro alegam que as mensagens provam que o ex-presidente se distancia do plano golpista. A defesa entende que fica claro que Bolsonaro estava fora e precisava ser arrastado para o plano golpista.
Após a revelação dos diálogos entre Lawand Junior e Cid, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, telefonou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedindo calma, garantindo que tomaria providências a respeito do caso e que já estava agindo.
Por volta de 12h desta sexta, Múcio se reuniu por mais de uma hora no Palácio da Alvorada com Lula e o comandante do Exército, general Tomás Paiva.
Sobre o caso, o Exército disse, em nota, que “eventuais condutas individuais julgadas irregulares serão tratadas no âmbito judicial, observando o devido processo legal”.
A corporação também afirmou que “prima sempre pela legalidade e pelo respeito aos preceitos constitucionais” e que opiniões e comentários pessoais “não representam o pensamento da cadeia de comando do Exército Brasileiro e tampouco o posicionamento oficial da Força”.
* Publicado por Léo Lopes
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Fonte: CNN Brasil