À medida que um bombardeio israelense se intensificava no sábado (14), as padarias em Gaza estavam ficando sem pão, a água potável ficava escassa e os cortes de energia deixavam as famílias sem telefones carregados para saber se os parentes em fuga estavam seguros.
“Há uma crise de eletricidade, uma crise alimentar, uma crise de água, uma crise de tudo”, disse Eyad Abu Mutlaq, de 45 anos, em Khan Younis, no sul de Gaza, uma região repleta de milhares de pessoas que fogem do norte por medo de uma invasão israelense.
“Só Deus pode resolver isso”, disse ele depois de visitar quatro padarias e encontrar longas filas ou falta de suprimentos.
Pessoas que chegaram ao sul de Gaza na sexta-feira (13) foram informadas para deixarem uma área no norte nos quais os recursos já estavam esgotados.
As Nações Unidas pediram para Israel “evitar uma catástrofe humanitária” em Gaza, um pedaço de terra com 2,3 milhões de pessoas espremidas entre Israel, o Egito e o Mar Mediterrâneo.
Em resposta ao ataque terrorista de 7 de outubro pelo grupo extremista Hamas, Israel impôs um “bloqueio total”, interrompendo o fornecimento de alimentos e cortando a eletricidade a Gaza. Uma semana depois do início, as lojas estão ficando sem produtos.
“Eu procurava alimentos básicos, ovos, arroz, comida enlatada e até leite para as crianças e não consegui encontrá-los”, disse a moradora de Khan Younis, citando apenas o apelido de Um Salem.
“É assim que Israel está nos combatendo, através da fome de nossos filhos. Ou eles matam crianças com bombas, ou logo pela fome”.
Israel disse ter dito às pessoas para deixarem o norte para sua segurança e para garantir que não fossem apanhadas no conflito.
Afirmou ainda que garantiria a segurança dos palestinos que fogem da área por duas estradas principais até as 16h da sexta-feira (13).
Aqueles que fugiram disseram que muitas estradas e ruas estão difíceis de usar e algumas intransitáveis, devido aos danos.
Apelo para acabar com “cerco”
As autoridades de Gaza disseram que 70 pessoas morreram e 200 ficaram feridas quando Israel atingiu carros e caminhões que transportavam pessoas que fugiam do norte.
O ataque terrorista do Hamas na semana passada matou mais de 1.300 israelenses. Os combatentes também fizeram vários reféns, na pior violação das defesas de Israel desde a sua criação em 1948.
O número de mortos na resposta de Israel foi de mais de 2.200 pessoas no sábado.
Sem a opção de atravessar a fronteira para o Egito, uma maior parte da população de Gaza tem se amontoado no sul em busca de abrigo, à medida que Israel acumula tropas e tanques na fronteira. Israel já lançou ataques.
“Precisamos de transportar combustível para Gaza agora. O combustível é a única forma de as pessoas terem água potável. Caso contrário, as pessoas começarão a morrer de desidratação grave, entre elas crianças pequenas, idosos e mulheres”, disse Philippe Lazzarini, o comissário-geral da agência de refugiados da ONU, UNRWA.
“A água é agora a última tábua de salvação que resta. Apelo para que o cerco à assistência humanitária seja levantado agora”, disse ele.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse na sexta-feira que estava priorizando o enfrentamento da crise humanitária em Gaza, trabalhando com Israel, Egito, Jordânia, outros estados árabes e a ONU, incluindo trazer para casa todos os reféns americanos.
As autoridades de Gaza relataram 10.000 pessoas feridas até o momento no bombardeio.
Os hospitais estão lutando para lidar com a situação. O porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Ashraf Al-Qidra, disse que os hospitais estavam com poucos suprimentos médicos e combustível para continuar funcionando.
Mais de 1.695 edifícios e torres foram destruídos nos ataques aéreos israelenses, além de 7 mil unidades habitacionais, informou o escritório de mídia do governo do Hamas.
Com cortes de energia e sem combustível para operar os geradores, Adel Shaheen carrega os telefones das pessoas com seus painéis solares durante o dia.
“Não vemos mais eletricidade e se quisermos carregar um celular temos que esperar o sol, caso contrário não teremos eletricidade”, disse ele.
“As pessoas querem carregar (telefones celulares) para que possam fazer isso. Ligar para verificar suas famílias.”
Mas ele disse que a maioria dos habitantes de Gaza estão agora “isolados do mundo”.
Veja também: Faixa de Gaza é bombardeada após fim do prazo dado por Israel
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