A semana começa com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China, em sua quarta viagem internacional desde o início de seu terceiro mandato.
Lula deve se encontrar com o líder chinês, Xi Jinping, nesta terça-feira (28). Há expectativa de que Brasil e China assinem dez memorandos de entendimento nas áreas de meio ambiente, turismo, agricultura, ciência e tecnologia.
Além disso, Lula e Xi devem tratar de temas sensíveis, como Rússia, Ucrânia e o conflito que se desenvolve no Leste Europeu. A CNN consultou especialistas no assunto. Confira abaixo:
Na avaliação de Regiane Nitsch Bressan, professora de Relações Internacionais da Unifesp, a próspera relação entre Brasil e Rússia – cultivada através dos Brics, por exemplo – impede uma condenação mais assertiva por parte do governo brasileiro à guerra na Ucrânia.
“A posição adotada pelo Itamaraty é bastante discreta. Ainda que o Brasil defenda a democracia e a autonomia dos povos, nós temos essa tradição de não intervenção. Nesse caso, é como se o Brasil não quisesse tomar partido da guerra”, explica.
Além disso, Regiane aponta não haver “comércio significativo” entre Brasil e Ucrânia. No entanto, ela ressalta que isso não obriga o Brasil a compactuar com a invasão russa.
“Não é porque o Brasil desenvolve uma relação mais próspera [com a Rússia], que ele apoia a guerra”, acrescenta.
Posições divergentes
Segundo Bárbara Motta, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a relação da China para com o combate na Ucrânia, por sua vez, diverge daquela assumida pelo Brasil. Ela cita três fatores que ajudam a entender o cenário:
“As relações entre Brasil e Rússia e China e Rússia são diferentes, mesmo que os três países façam parte dos Brics. Os impactos da guerra para China e para o Brasil também são diferentes”. A tudo isso, soma-se o fato de “as relações de cada um dos dois países com os Estados Unidos também serem diferentes”.
De acordo com a especialista, o fim do conflito na Ucrânia aparenta ser, em termos econômicos, mais vantajoso para Brasil do que para a China.
“A aproximação entre Xi Jinping e Vladimir Putin já era intensa e com a guerra aumentou. O conflito colocou alguns elementos que aproximaram a Rússia da esfera de influência chinesa. Então, a China pode servir de parceiro para que a situação econômica na Rússia não fique tão catastrófica quanto ela pode ficar”, avalia.
Em fevereiro, Pequim pediu um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia em documento divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores. A China também solicitou o fim das sanções unilaterais contra Moscou e enfatizou sua oposição ao uso de armas nucleares no Leste Europeu.
Para Letícia Simões, professora da Unilasalle e membro do Centro de Estudos sobre China Contemporânea e Ásia (CEA-UFF), durante a visita de Xi Jinping à Moscou na semana passada, Putin entende que os pedidos de Pequim podem ser discutidos.
“Pensando em uma ideia de cooperação e relação estratégica entre Rússia e China, Moscou viu a possibilidade de Pequim como mediador do conflito de forma positiva”, analisa.
Letícia considera que a viagem do líder chinês à Rússia sinaliza haver uma “abertura para que a China se posicione como uma mediadora desse conflito”.
“Se pensarmos na guerra da Ucrânia como uma guerra de procuração, temos um conflito Ocidente-Oriente. Ao mesmo tempo em que Xi Jinping visita Putin, o primeiro-ministro japonês vai a Kiev, deixando muito claro que a guerra não é só sobre a Ucrânia”, completa.
Já a respeito da visita de Lula à China, Letícia indica que a viagem destaca o importante papel de ambos países perante a países emergentes e desenvolvidos.
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Fonte: CNN Brasil