• qui. jan 23rd, 2025

Familiares israelenses não têm informações sobre reféns do Hamas: “É tão solitário”

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A última vez que a família de Adina Moshe a viu, a mulher de 72 anos estava em uma motocicleta, entre dois membros do Hamas, que estavam a sequestrando no kibutz Nir Oz, perto da Faixa de Gaza.

Moshe parece aterrorizada, mas mantém a cabeça erguida. A imagem horrível aparece num aviso de pessoa desaparecida que foi fixado ao lado de dezenas de outros na parede de HaKirya, no quartel do governo e militar em Tel Aviv.

“Eu não pude olhar para isso porque é tão chocante, você pode ver os sequestradores que mataram seu marido e a colocaram em uma motocicleta… e ela tem que segurá-lo para não cair”, disse à CNN a sobrinha de Moshe, Einav Moshe Barda.

Segundo Moshe Barda, as autoridades disseram à família que sua tia estaria entre as pessoas que foram levadas pelo Hamas para Gaza.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram na sexta-feira (13) que notificaram as famílias de 120 pessoas capturadas, mas não divulgaram qualquer outra informação.

Uma semana após o ataque, essas famílias continuam presas num limbo agonizante.

“Tudo o que nos disseram é que o telefone dela está em Gaza”, disse Meirav Gonen, cuja filha Romi foi sequestrada no festival de música Supernova, à CNN.

“Eu sei que ela foi baleada. Ela me ligou às 10h15 [horário local] e eu fiquei com ela [no telefone] até as 10h58. Ea estava perdendo a consciência e ouvi tiros ao redor dela, se aproximando do carro e depois pessoas gritando em árabe… gritando que ela estava viva e que eles precisavam dela” contou.

Homens armados do Hamas assassinaram pelo menos 260 pessoas naquele festival de música. Ao longo do ataque, eles mataram cerca de 1.300 pessoas.

Gonen falava à CNN na sede improvisada do Fórum de Famílias de Reféns e Pessoas Desaparecidas em Tel Aviv, um grupo formado para prestar apoio às pessoas afetadas pela crise.

O fórum reuniu equipes encarregadas de falar com o governo e fazer lobby junto a diplomatas estrangeiros. Tem uma equipe de relações públicas que está divulgando os casos, assim como um grupo de negociadores que está a tentar elaborar uma estratégia sobre como garantir a liberdade dos reféns.

“Em primeiro lugar, é para as famílias se apoiarem mutuamente”, disse Gonen. “Para que você saiba que não está sozinho. É tão, tão solitário. Todos os pensamentos e sentimentos que você tem quando para por um minuto para ouvi-los”, disse Gonen.

Fotos de pessoas que foram sequestradas pelo Hamas são exibidas em uma parede ao lado de slogans de protesto em Tel Aviv em 14 de outubro de 2023 / Ivana Kottasová/CNN

Raiva contra o governo

Enquanto algumas famílias estão focadas em espalhar informações sobre seus entes queridos, outras estão cada vez mais irritadas com a resposta do governo à crise.

O ataque realizado pelo Hamas em 7 de outubro foi o mais mortífero nos 75 anos de história de Israel e expôs uma surpreendente falha de inteligência por parte das forças de segurança de Israel.

Do outro lado da rua onde Moshe Barda e outros membros da família se reuniam, um protesto muito furioso ocorria na sexta-feira (13). O alvo: o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o seu governo.

“É um governo disfuncional, todos esses partidos extremistas, eles deveriam sair e deixar que pessoas capazes lidem com esta coisa terrível”, disse Daphna Cohen, que carregava uma bandeira israelense e uma faixa pedindo a renúncia de Netanyahu.

Ela disse à CNN que, embora tenha participado de protestos contra o primeiro-ministro durante anos, desta vez parece diferente.

“Nunca senti tanta raiva e ódio por uma pessoa desde que nasci. E tenho 66 anos, não me lembro de ter sentido o que sinto por essa pessoa”, disse. “Ele não assume responsabilidades e não acredito que ele se importe apenas consigo mesmo, mesmo nesses momentos difíceis. Ele é o criminoso capaz de nos levar para o ralo.”

Veja também: Hamas disse que ataque contra Israel estava sendo planejado há 2 anos

Israel estava profundamente dividido antes dos ataques de 7 de outubro. Houve meses de protestos contra a coligação de direita de Netanyahu, especialmente devido a uma lei controversa que restringe o poder do tribunal superior de Israel.

O primeiro-ministro e os seus apoiadores dizem que os tribunais precisavam de reformas, mas os seus oponentes descreveram a medida como um ataque à democracia.

Netanyahu também enfrentou acusações de corrupção nos últimos anos – alegações que ele nega.

As atrocidades do Hamas geraram algum nível de unidade política, com Netanyahu formando esta semana um governo de emergência com o líder da oposição Benny Gantz. Ele também nomeou Gal Hirsch, general aposentado das Forças de Defesa de Israel (FDI), como coordenador de reféns do governo.

Hirsch disse que sua equipe estava “investigando cada informação” para encontrar as pessoas sequestradas. Mas ainda há uma raiva palpável contra o governo de Netanyahu por não ter previsto os ataques do Hamas – e a crise de reféns sem precedentes que o país enfrenta agora.

No protesto de sábado, um manifestante deitou sobre um grande lençol salpicado de tinta vermelha que lembrava sangue, com uma placa que dizia: “Continuar no poder? Sobre o meu cadáver.”

Uma placa que diz “Continuar? Sobre meu cadáver” é vista em um protesto contra Benjamin Netanyahu em Tel Aviv em 14 de outubro de 2023 / Ivana Kottasová/CNN

Gaza é atacada, famílias israelenses esperam por notícias

Israel declarou formalmente guerra ao Hamas e as FDI há dias realizam com ataques aéreos e bombardeios a Faixa de Gaza.

Nos primeiros seis dias conflito, Israel lançou cerca de 6.000 bombas sobre Gaza – o mesmo número que lançou durante todo o conflito Gaza-Israel, de 50 dias, em 2014.

O Ministro da Defesa, Yoav Gallant, disse que ordenou um “cerco completo” a Gaza – onde vivem mais de 2 milhões de pessoas ,– bloqueando o fornecimento de eletricidade, alimentos, combustível e água.

O ministro da Energia, Israel Katz, disse que o fornecimento permanecerá cortado até que os reféns sejam libertados.

Mais de 2.100 pessoas, incluindo 724 crianças e 458 mulheres, foram mortas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde palestino.

A crise humanitária em Gaza está aumentando: as pessoas correm o risco de morrer de fome, os geradores dos hospitais estão prestes a ficar sem combustível e ruas inteiras estão reduzidas a escombros.

Os militares israelenses alertaram as pessoas que vivem no norte de Gaza para deixaram a região e irem para o sul para a sua segurança, antes de um aumento esperado nas operações, incluindo uma possível invasão terrestre.

A Unicef diz que isso equivale a 1,1 milhão de pessoas, cerca de metade da população de Gaza, e acrescenta que “não há nenhum lugar seguro para os civis irem”.

Vários governos estrangeiros envolveram-se nos esforços para libertar os reféns. O Catar está em negociações com o Hamas, e os EUA têm estado em contato com o país, uma vez que desempenham um papel fundamental de mediação com o grupo islâmico, disse à CNN um alto funcionário dos EUA e outra pessoa familiarizada com as discussões.

Mark Regev, conselheiro sênior do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, alertou o Hamas sobre as repercussões se algum dos reféns fosse ferido de alguma forma.

“Se algum dano acontecer a estes reféns, encontraremos os responsáveis e os levaremos à justiça, e eles pagarão. E se demorar um ano, cinco anos ou 25 anos, se eles estiverem envolvidos em ferir esses reféns, Israel irá encontrá-los e haverá retribuição”, disse à CNN.

Veja também: Saiba como o Hamas adquiriu armas e mísseis para guerra

De volta a Tel Aviv, o clima entre as famílias das pessoas feitas reféns era sombrio. Muitas delas mostram-se relutantes em criticar o governo, concentrando todos os seus esforços em campanhas pela libertação dos seus entes queridos.

“Quero acreditar que o governo não está falando sobre isso porque está fazendo todos os esforços para trazê-los de volta… temos que estar unidos”, disse Moshe Barda à CNN.

“Quero que o governo, o mundo, todos se unam e os tragam de volta. São crianças sem mãe, mães sem filhos, avós, avôs.”

Moshe Barda disse que encontra conforto em saber que sua tia é uma mulher forte. Se ela for mantida com outras pessoas, disse Moshe Barda, é provável que ela esteja cuidando de todos. No kibutz, Moshe foi babá por muitos anos, cuidando de muitas crianças nascidas e criadas na comunidade.

“Ela é uma mulher muito forte. Veja a foto, ela está sentada na motocicleta com as costas retas… e acabou de ver o marido sendo assassinado”, apontou.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

versão original

Fonte: CNN Brasil

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