Manifestantes chineses recorreram a folhas de papel em branco para expressar sua revolta pelas restrições da Covid-19 em uma sinal raro e generalizado de dissidência pública que foi além da mídia social para algumas das ruas da China e principais universidades.
Imagens e vídeos que circularam online mostraram estudantes de universidades em cidades como Nanquim e Pequim segurando folhas de papel em branco em protesto silencioso, uma tática usada em parte para fugir da censura ou prisão.
A China está aderindo à sua rígida política de Covid zero, mesmo enquanto grande parte do mundo tenta coexistir com o coronavírus.
A última onda de protestos foi desencadeada por um incêndio em um apartamento que matou dez pessoas na quinta-feira (24) em Urumqi, uma cidade do extremo Oeste onde algumas pessoas ficaram isoladas por até cem dias, alimentando especulações de que as medidas de bloqueio podem ter impedido a fuga dos moradores.
Em Xangai, uma multidão que começou a se reunir na noite de sábado (26) para fazer uma vigília à luz de velas pelas vítimas de Urumqi ergueu folhas de papel em branco, segundo testemunhas e vídeos.
Um vídeo amplamente compartilhado, supostamente de sábado, que não pôde ser verificado de forma independente, mostrou uma mulher solitária nos degraus da Universidade de Comunicação da China, na cidade de Nanquim, com um pedaço de papel antes de um homem não identificado entrar em cena e tomá-lo.
Outras imagens mostraram dezenas de outras pessoas então subindo os degraus da universidade com folhas de papel em branco, iluminadas contra o céu noturno por lanternas de seus telefones celulares.
Mais tarde, um homem pode ser visto repreendendo a multidão por seu protesto. “Um dia vocês vão pagar por tudo que fizeram hoje”, disse ele, em vídeos vistos pela Reuters. “O Estado também terá que pagar o preço pelo que fez”, gritaram as pessoas na multidão.
Protestos generalizados são raros na China, onde o espaço para dissidência foi praticamente eliminado sob o presidente Xi Jinping, forçando os cidadãos a desabafar nas redes sociais, onde jogam “gato e rato” com os censores.
Folhas de papel semelhantes podem ser vistas nas mãos de pessoas reunidas na prestigiada Universidade Tsinghua, em Pequim, para cantar o hino nacional chinês no domingo (27).
Os manifestantes foram aconselhados a levar uma folha de papel branco para pelo menos uma manifestação planejada, de acordo com dicas compartilhadas em grupos de bate-papo vistos pela Reuters.
Em Hong Kong, em 2020, ativistas também levantaram folhas de papel em branco em protesto para evitar slogans proibidos pela nova lei de segurança nacional da cidade, imposta após protestos maciços e às vezes violentos no ano anterior. Os manifestantes em Moscou também usaram a estratégia este ano para protestar contra a guerra da Rússia com a Ucrânia.
Um morador de Pequim de sobrenome Wang, que se juntou a seus vizinhos no sábado para pressionar as autoridades locais a liberar seu apartamento do bloqueio, descreveu sua tristeza ao ouvir sobre “desastres secundários” envolvendo a política Covid zero.
Wang estava se referindo a incidentes na China que provocaram revolta nas redes sociais, incluindo uma mulher grávida que abortou após ter sido impedida de entrar em um hospital de Xian em janeiro, o acidente mortal de um ônibus em Guizhou transportando pessoas em quarentena e um menino em Lanzhou que morreu de envenenamento por gás durante o confinamento.
“Tudo isso poderia ter acontecido comigo ou com minha esposa”, disse ele à Reuters.
Vários usuários da Internet mostraram solidariedade postando quadrados em branco ou fotos deles mesmos segurando folhas de papel em branco em suas timelines do WeChat ou no Weibo. Na manhã de domingo, a hashtag “exercício de papel branco” foi bloqueada no Weibo, levando os usuários a lamentar a censura.
“Se você tem medo de uma folha de papel em branco, você é fraco por dentro”, postou um usuário do Weibo.
(Edição de Kim Coghill)
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Fonte: CNN Brasil