• qui. jan 23rd, 2025

Imigração na “direção oposta”: número de americanos no México cresce em 2022

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A fronteira norte do México, onde a crise dos imigrantes que tentam entrar nos Estados Unidos não diminui, costuma estar no centro das notícias sobre imigração.

Enquanto isso, cresce também um movimento em sentido contrário, embora com características diametralmente opostas: o de americanos se estabelecendo no país vizinho.

No ano de 2022, um total de 11.518 americanos receberam o cartão de residente temporário no México, segundo dados da Secretaria do Interior (Segob) do país latino-americano.

O número implica um aumento em relação ao ano anterior, quando foram registrados 9.086. Já em 2020, ano da pandemia, o número havia sido de 5.393 (contra 6.564 em 2019). Ou seja, de 2020 a 2022 o número esteve próximo de dobrar.

Quase 7.000 dos cartões do ano passado correspondiam a alunos, de acordo com a classificação feita pela organização. Seguem-se os casos dos rentistas, cerca de 3.500, e depois os dos trabalhadores que se estimam em cerca de 2.300.

Os americanos que obtiveram o cartão de residência temporária em 2022 representam quase 20% do total de estrangeiros que tiveram luz verde com esse procedimento (59.156 exatamente).

Eles são o país de onde mais pessoas processaram essa documentação, seguidos pela Colômbia e Cuba.

A tendência ascendente coincide com o aumento do número total de estrangeiros que se estabelecem com autorização de residência temporária no país, que passou de cerca de 35 mil em 2020 para cerca de 59 mil em 2022.

Segundo o Departamento de Estado, cerca de 1,6 milhão de americanos vivem no México.

O refúgio dos nômades digitais

Um fator em jogo para os americanos é o aumento do custo de vida em seu país, que em 2022 registrou sua pior taxa de inflação em 40 anos.

Os custos crescentes de compra e aluguel de moradia, alimentação e serviços levaram os americanos a se instalarem na Cidade do México, em muitos casos aproveitando a possibilidade de teletrabalho.

Isso permite que eles cobrem em dólares, um negócio para os bolsos dos americanos.

Assim resume o professor Fernando Bustos, da Universidade Anahuac: “Eles se mudam para cá porque é barato, não porque realmente querem participar da cultura local ou porque se interessam pelo México”.

A The Economist, que todos os anos publica uma lista das cidades mais caras do mundo para se viver, incluiu no ano passado 22 americanos de um total de 172. Entre eles estavam Nova York, Califórnia, Portland, Boston, Chicago e Charlotte.

A Cidade do México, por sua vez, ocupou recentemente o décimo primeiro lugar entre as cidades mais caras da América Latina, de acordo com o ranking de 2022 da empresa global de mobilidade ECA International.

É mais barato que muitas outras capitais da região como Buenos Aires, Montevidéu, Lima e Quito, e também mais barato que grande metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo.

“Em San Diego meu apartamento custou US$ 2.500, era um estúdio. Aqui tenho um apartamento de um quarto por US$ 800”, disse Erik Rodriguez, um dos muitos imigrantes residentes na capital mexicana que está oficialmente como turista.

Para ele, que mal falava espanhol, a mudança não foi uma conexão com suas raízes latinas, mas uma equação. No entanto, parece confortável. “Começa a me sentir em casa. Já estou aqui há vários meses”, disse.

Uma imigração com custo alto para o locais

A mudança é um bom negócio para os americanos, que chegam com sua moeda forte, mas não necessariamente para os locais, que apesar da injeção para a economia que a chegada de novos habitantes com poder de compra supõe, também viram os preços das moradias aumentarem devido à demanda externa.

É o caso de Sandra Ortiz, que durante anos teve um restaurante familiar no bairro popular conhecido como Roma.

Com o aumento dos preços, tornou-se impossível para eles se sustentarem e acabaram despejados, seus pertences na calçada a qualquer momento.

Ortiz ficou sem negócio, hoje trabalha em outro restaurante e não voltou para sua área antes. “Muita dor”, diz ele.

Os mexicanos também lutam contra a inflação alta: fechou dezembro em 7,82 na taxa anual e em janeiro não deu sinais de queda. A isto acrescenta-se que, segundo os especialistas, em 2023 o país não atingiria os níveis de crescimento do ano passado, que foi de 3%.

Este conteúdo foi criado originalmente em espanhol.

versão original

Fonte: CNN Brasil

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