Os líderes de um golpe no Níger estão firmes enquanto enfrentam um prazo iminente dos vizinhos para desistir do poder ou enfrentar uma possível ação militar.
O bloco regional da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) deu aos militares nigerenses um prazo até este domingo (6) para libertar e restabelecer o presidente deposto do país, Mohamed Bazoum.
Um dos funcionários do grupo disse que um plano para uma intervenção foi “elaborado”, mas que continua sendo o último recurso. Mas com o passar do tempo, a possibilidade de uma ação militar está se tornando real.
Como chegou até aqui
O Níger fica no coração da região africana do Sahel, que tem visto inúmeras tomadas de poder nos últimos anos, como em Mali e Burkina Faso. Mas o Níger tem sido uma das poucas democracias remanescentes na região.
A vitória eleitoral do presidente Bazoum em 2021 marcou uma transferência de poder relativamente pacífica, encerrando anos de golpes militares após a independência do país da França em 1960. Mas havia sinais de que a liderança militar do país acreditava que faltava apoio do governo para combater militantes e que um golpe poderia mudar essa campanha.
O golpe foi lançado no final de julho, quando Bazoum foi tomado por membros da guarda presidencial, antes que as instituições nacionais fossem fechadas e manifestantes de ambos os lados saíssem às ruas.
O chefe da guarda, Abdourahamane Tiani, foi nomeado o novo líder. O paradeiro de Bazoum não é claro, em um artigo de opinião para o The Washington Post, ele se descreveu como “refém”.
Veja: General se apresenta como novo líder do Níger
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A intervenção é provável?
A Cedeao demonstrou vontade de agir nos casos em que os líderes se recusam a renunciar ao poder ou quando as crises políticas aumentam.
O novo presidente da comunidade é o novo presidente do Nigéria, Bola Tinubu, que, segundo analistas, fará questão de deixar sua marca e mostrar que não é um ingênuo. Será a primeira crise de sua curta gestão na Cedeao.
Os meios de comunicação locais relataram na sexta-feira (4) que Tinubu havia escrito para informar os legisladores no Níger, como ele é legalmente obrigado a fazer, sobre a intenção da Cedeao de intervir militarmente no Níger se os líderes do golpe “permanecerem resistentes”.
O Senegal, uma peça-chave na região, também prometeu tropas, enquanto a ex-potência colonial do Níger, a França, disse que apoiava a posição da Cedeao.
Após uma reunião do bloco esta semana, o Comissário para Assuntos Políticos, Paz e Segurança, Abdel-Fatau Musah, chamou qualquer opção militar de “último recurso”, mas acrescentou que “todos os elementos que entrariam em qualquer eventual intervenção foram elaborados aqui e estão sendo refinado”.
Oluseyi Adetayo, especialista em segurança e inteligência, disse à CNN: “A preparação já está em alta velocidade, não há dúvida sobre isso e os militares estão de prontidão.”
“No meu entendimento, o Níger não vai recuar e fará o que for preciso para devolver o país ao governo civil”, acrescentou.
“Eles querem que o poder seja devolvido a Bazoum, mas provavelmente isso pode não ser um resultado viável. Eles podem ter que se comprometer fazendo com que a junta deixe o poder, mas sem entregar o então presidente. Alguém neutro pode entrar para comandar um governo de transição”, disse Adetayo.
A Cedeao já interveio antes
A última instância notável foi em 2017, quando a Cedeao usou forças militares na Gâmbia para remover o presidente Jammeh, que não queria desistir do poder após as eleições.
Uma demonstração de força na fronteira obrigou Jammeh a renunciar, levando a uma resolução rápida. Este evento levantou a questão de saber se táticas semelhantes seriam bem-sucedidas na situação atual no Níger.
O bloco também destacou forças de manutenção da paz, principalmente do país para zonas de guerra como Serra Leoa e Libéria. Mas esta é a primeira vez que ameaça intervir em um golpe – não houve tal resposta após golpes nos vizinhos Mali ou Burkina Faso.
Por que o Níger
O Níger tem um enorme significado regional. É o maior país da África Ocidental e uma porta de entrada vital entre o Sahel e o resto do continente.
A região do Sahel enfrenta desafios de segurança, como terrorismo e insurgência, e o país é um campo de batalha crítico na luta contra o terrorismo e um foco para os esforços de segurança regionais e internacionais.
Os EUA e a França consideram o Níger um aliado crítico e ambos os países têm bases militares no local.
O país possui recursos naturais significativos, sendo o urânio seu ativo mais notável, crucial para a energia nuclear e outras aplicações industriais.
Veja também: EUA, ONU e União Europeia condenam tentativa de golpe no Níger
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Como as pessoas no Níger estão reagindo
Muitos nigerenses estão divididos – o país passou por vários golpes e ditaduras, mas, ao mesmo tempo, a má governança manchou a ideia de que a democracia é a solução.
O Níger é um dos países mais pobres do mundo e as pessoas estão sofrendo. Necessidades básicas como comida e abrigo são prioridades.
Alguns saudaram o golpe. Os protestos viram os nigerenses denunciarem a França e elogiarem a Rússia, cujo grupo de Wagner desempenha um papel de apoio a alguns outros líderes da África Ocidental.
“Há protestos pró-golpe em todo o país, não apenas em Niamey”, disse à CNN Ali Sounama, um jornalista nigerense.
“Houve má governança no Níger nos últimos 10 anos, falta de justiça e um sentimento geral de insegurança. Há também escolas e instituições de saúde precárias. Tudo isso levou as pessoas a aceitarem uma mudança de regime”, acrescentou.
Esse tipo de sentimento sugere que, mesmo que o objetivo declarado seja restaurar a democracia, uma intervenção militar pode não ser bem-vinda em todo o país.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
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Fonte: CNN Brasil