• qui. jan 23rd, 2025
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A chegada de cada governo ao poder executivo é precedida de grande expectativa. Durante uma eleição, seja municipal, estadual ou federal, várias são as promessas e os debates em torno das agendas econômicas e sociais.

Países como o Brasil, de profundas desigualdades, não há um só governo cujo programa não convirja em sanar a pobreza e as diferenças. Desde que acompanho as políticas específicas de combate ao racismo, sinto o dilema de quem investe em combate à pobreza como forma de combater o racismo e as dúvidas de quando começa uma coisa e termina a outra e o quanto elas se misturam.

Para o economista mexicano Luis Felipe López-Calva, Diretor Global de pobreza e equidade do Banco Mundial, “o racismo é um problema econômico e, como tal, combatê-lo, deveria ser prioridade para todos os governos, independentemente de suas orientações ideológicas.

López-Calva tem dedicado parte do seu tempo a estudar as raízes das desigualdades econômicas e raciais na América Latina, região mais desigual e violenta do mundo, segundo levantamentos internacionais. As ações devem ser direcionadas nas duas frentes: combater o racismo e também a pobreza.

O diretor continua: “Existe um custo social e um custo econômico da discriminação que gera segregação”.

E defende políticas públicas que prevejam investimentos em educação pública de qualidade e cotas para minorias.

“É um problema muito sério do ponto de vista econômico e social. Se a pessoa está excluída do mercado de trabalho, não tem condições de contribuir para o crescimento econômico, de gerar renda para seu lar. Essa discriminação gera desigualdade econômica e também falta de produtividade”, diz o economista, que destaca que o racismo é um problema presente não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina.

Com base neste olhar, avaliamos o primeiro semestre de dois governos que tomaram posse este ano e completam seu primeiro semestre de mandato este mês, de tendências ideológicas distintas, mas com poder de influência em resultados econômicos de grandes proporções. Refiro-me ao governo de São Paulo, estado mais rico da União e também ao governo federal, de maior poder ainda, pois detém os rumos econômicos da nação.

Analisando São Paulo no aspecto econômico, não existe uma só política focada no desenvolvimento econômico da comunidade negra. Embora o estado concentre o maior
número de empresas, é o que mais emprega e o mais desenvolvido da nação, não há política pública direcionada, por exemplo, para empreendedorismo negro, contingente que ultrapassou o número de brancos neste século, segundo estudo do Sebrae com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Isto só para falar de um setor que muitas vezes serve como válvula de escape da discriminação racial negra no mercado de trabalho.

Quando voltamos nosso olhar para o governo federal, a coisa muda um pouco de figura, embora no aspecto simbólico seja visível um número maior de negros e negras em
ministérios como da Cultura, Direitos Humanos, Igualdade Racial chegando até à presidência do Banco do Brasil, porém, o foco econômico de desenvolvimento negro
também não aparece nas políticas econômicas macros que regeram este primeiro semestre.

Analisando, por exemplo, medidas de certo impacto econômico como a isenção de alguns impostos para a indústria automobilística e outras ações como arcabouço fiscal, há de se refletir o que essas duas medidas interferem no combate à desigualdade racial e, por consequência, econômica de negras e negros em nosso país?

Pensar em políticas públicas de desenvolvimento econômico para pessoas pretas no Brasil deve fazer parte da agenda antirracista de qualquer governo que tenha compromisso com a democracia e combate às desigualdades, pautas essas que não podem estar mais atreladas apenas à cultura de direitos humanos e esportes e, sim, a políticas de desenvolvimento econômico fundamentais para uma verdadeira e sólida equidade racial em nosso país.

Fonte: CNN Brasil

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