• qui. jan 23rd, 2025

Novos fósseis aproximam répteis antigos a baleias

ago 12, 2023
Ouvir notícia

Um réptil marinho antigo incomum engolia toneladas de animais semelhantes a camarões usando uma técnica de alimentação semelhante à aplicada por algumas baleias modernas.

O réptil, chamado Hupehsuchus nanchangensis, viveu nos oceanos da Terra entre 247 milhões e 249 milhões de anos atrás, durante o início do período Triássico.

Fósseis do réptil foram encontrados pela primeira vez na China em 1972. No entanto, os pesquisadores quebraram a cabeça nas últimas décadas para entender o comportamento alimentar e o estilo de vida do animal porque nenhum dos crânios estava bem preservado.

Por sorte, dois fósseis recém-descobertos desenterrados da formação chinesa de Jialingjiang, na província de Hubei, incluem o esqueleto quase completo de um réptil e uma grande parte (da cabeça à clavícula) de outro.

As descobertas permitiram que os pesquisadores examinassem de perto o Hupehsuchus nanchangensis e determinassem que o réptil tinha um focinho sem dentes e um crânio pequeno e estreito. Sua mandíbula inferior era frouxamente ligada ao resto do crânio, o que significa que a criatura poderia expandir sua boca, algo parecido com o que as baleias modernas fazem para comer filtrando os alimentos, a chamada alimentação por filtração.

O estudo detalhando as descobertas foi publicado terça-feira:-feira (8) na revista “BMC Ecology and Evolution”.

“Os novos achados foram mais completos do que os anteriores e mostraram que o focinho longo era composto de ossos não fundidos, feito tiras, com um amplo espaço entre eles correndo ao longo do comprimento do focinho”, afirmou o coautor do estudo Long Cheng, professor do Centro Wuhan de Pesquisa Geológica da China. “Esse tipo de formação só é visto em baleias-de-barbatana modernas, onde a estrutura solta do focinho e mandíbulas inferiores lhes permite apoiar uma enorme região de garganta que se abre amplamente quando elas nadam para a frente, engolindo pequenas presas”.

Evidência de alimentação de filtração

Os pesquisadores compararam o crânio do Hupehsuchus com 130 crânios modernos de vários animais aquáticos, incluindo 23 espécies de focas, 14 crocodilianos, 52 baleias dentadas, 25 aves, o plátipo e 15 espécies de baleia-de-barbatana. A equipe descobriu que a criatura tinha mais em comum com as baleias-de-barbatana do que com os demais animais.

Baleias-da-groelândia e baleias-franca modernas são espécies que usam técnicas de alimentação de filtração para comer, peneirando material através de placas de barbatanas enquanto nadam com a boca aberta perto da superfície do oceano para absorver grandes quantidades de plâncton ou pequenos crustáceos chamados krill.

“A barbatana é feita de queratina, formando uma cortina fibrosa macia e resistente pendurada na mandíbula superior desse tipo de baleia”, de acordo com o estudo. Durante a alimentação por filtração, as resistentes placas de barbatanas prendem a presa à medida que a água é forçada para fora.

Os crânios de Hupehsuchus e um crânio de baleia-minke tinham focinhos longos semelhantes, com ossos estreitos e soltos, indicando a fixação de uma bolsa de garganta expansível. / Fang et al./Courtesy University of Bristol

Mas, até agora, não havia evidências suficientes nos fósseis de répteis antigos usando alimentação de filtração. Embora nenhuma evidência real da barbatana tenha sido encontrada no crânio de Hupehsuchus, os pesquisadores notaram uma série de sulcos ao redor do palato onde o tecido mole pode ter ajudado com o sistema de alimentação. São estruturas semelhantes às vistas em baleias-de-barbatana, que têm tiras de queratina em vez de dentes.

“As baleias-de-barbatanas modernas não têm dentes, ao contrário dos cetáceos dentados, como golfinhos e orcas”, explicou o coautor do estudo Li Tian, pesquisador assistente da Universidade de Geociências da China Wuhan.

“Elas têm sulcos ao longo das mandíbulas para suportar cortinas de barbatanas, que são longas tiras finas de queratina, a mesma proteína que faz os cabelos, penas e unhas. O Hupehsuchus tinha os mesmos sulcos e entalhes ao longo das bordas de suas mandíbulas, e creio que ele tenha evoluído independentemente com alguma forma de barbatana”.

Revelações evolucionárias

O réptil Hupehsuchus tinha um corpo rígido que o tornava um nadador lento, então ele provavelmente expandia a garganta ao nadar para tomar grandes goles de água, engolindo as presas parecidas com camarões oceanos do início do período Triássico. É possível que o réptil marinho não tenha tido essa habilidade desde o início. Na verdade, a criatura pode ter evoluído ao longo do tempo, desenvolvendo os traços físicos adaptativos que possibilitaram a alimentação por filtração se o nível de competição para alimentos fosse alto, de acordo com o estudo.

A descoberta é um exemplo do que os cientistas chamam de evolução convergente, onde características semelhantes evoluem de forma independente em diferentes espécies.

“Ficamos surpresos ao descobrir essas adaptações em um réptil marinho tão antigo”, afirmou o autor principal do estudo Zichen Fang do Centro Wuhan. “Os hupehsuchianos eram um grupo único na China, parentes próximos dos ictiossauros e conhecidos há 50 anos, mas seu modo de vida não foi totalmente compreendido”.

As baleias evoluíram cerca de 15 milhões de anos depois que os dinossauros foram extintos no final do período Cretáceo, há 66 milhões de anos. E foram necessários cerca de 17 milhões de anos para que elas evoluíssem suas adaptações de alimentação por filtração, de acordo com o estudo.

Entretanto, a mesma técnica foi rapidamente adaptada, dentro de cerca de 5 milhões de anos, por répteis marinhos que viveram muito antes do que as baleias.

“Os hupehsuchianos viveram na China no início do Triássico, há cerca de 248 milhões de anos, e fizeram parte de uma enorme e rápida repopulação dos oceanos”, explicou o coautor do estudo Michael Benton, professor de paleontologia vertebrada na Escola de Ciências da Terra da Universidade de Bristol. “Foi um momento de turbulência que aconteceu apenas três milhões de anos após a enorme extinção do Permiano-Triássico que eliminou a maior parte da vida. Foi incrível descobrir a rapidez com que esses grandes répteis marinhos entraram em cena e mudaram completamente os ecossistemas marinhos da época”.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

versão original

Fonte: CNN Brasil

Compartilhar Postagem