Uma nova rodada de negociações entre o governo e a oposição da Venezuela tem início neste final de semana, no México. O objetivo é chegar a um “acordo parcial em questões sociais”. Desta vez, haverá dois ingredientes adicionais. Camila Fabri, a esposa colombiana do empresário Alex Saab estará na delegação oficial. Além disso, a presença dos Estados Unidos estará em segundo plano.
Veja o que se sabe sobre esta nova rodada de negociações entre o governo venezuelano e a oposição.
Um novo capítulo se abre
O governo e a oposição venezuelana se sentarão à mesa para reiniciar as negociações para encontrar uma solução para a crônica crise econômica e política do país, após meses de conversas discretas a portas fechadas.
Em dois comunicados publicados nesta quinta-feira (24), as delegações do governo e da oposição anunciaram que viajarão à Cidade do México neste sábado (26) para assinar um acordo conjunto para aumentar a ajuda internacional à Venezuela.
O acordo foi negociado pelo Reino da Noruega com o apoio do Ministério das Relações Exteriores do México e do Departamento de Estado dos EUA, e segue uma sessão anterior de negociações que durou de 2019 a 2021.
O anúncio ocorreu após meses de árdua aproximação entre as duas partes e intensa pressão diplomática da comunidade internacional.
A Noruega será o país mediador nessas negociações, enquanto o México será o anfitrião. Enquanto isso, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, acompanhou de perto as tratativas. Ele anunciou o reinício dos diálogos antes mesmo da divulgação da notícia oficial.
Anunciamos que el Gobierno de la República Bolivariana de Venezuela y la Plataforma Unitaria de Venezuela han decidido retomar el proceso de diálogo y negociación en México el 26 de noviembre, facilitado por Noruega. Ahí las partes suscribirán un acuerdo parcial en materia social
— Noruega en MX y CA (@NoruegaMexCA) November 24, 2022
Petro chegou ao México nesta quinta-feira e deve se encontrar com seu homólogo mexicano, Andrés Manuel López Obrador.
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse em entrevista coletiva que seu país “sempre ajudará a buscar a paz, a evitar o confronto (…) E esta é a casa de todos e agradecemos que tenham essa confiança de vir aqui realizar esses diálogos, que esperamos deem bons resultados”, relatou a Reuters.
O que diz a oposição?
A Plataforma Unitária, grupo que representa a oposição na Venezuela para este diálogo, emitiu um comunicado confirmando sua participação na nova rodada de negociações a ser realizada no México e que contará com a mediação da comunidade internacional.
“Ratificamos, em nome da Plataforma Unitária, a vontade de trabalhar juntos, a fim de chegar a acordos que permitam a materialização dos mecanismos que garantem o bem-estar de todos os venezuelanos”, diz o comunicado da oposição.
O líder da oposição Juan Guaidó disse que “as soluções que a Venezuela precisa são urgentes e nenhum interesse deve surgir antes da emergência”. Guaidó também pediu um “acordo abrangente”.
O papel dos Estados Unidos nos diálogos
Os Estados Unidos terão um papel direto nesses diálogos devido aos pontos colocados na mesa, como o de suspender as sanções impostas pelo país à Venezuela desde 2017.
O secretário adjunto dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, disse no Twitter que esperava que os delegados de ambos os lados “trabalhassem para aliviar os desafios humanitários” enfrentados pelos venezuelanos e realizassem “eleições livres e justas”.
Durante o verão, os Estados Unidos perdoaram dois parentes de Maduro condenados por tráfico de drogas em troca da libertação de oito cidadãos americanos e residentes permanentes detidos na Venezuela como uma demonstração de apoio às negociações.
Os Estados Unidos também estão preparando uma licença ampliada para as operações da petroleira Chevron na Venezuela caso ocorra o encontro entre o governo venezuelano e a oposição, disseram à CNN três fontes com conhecimento das negociações.
A Chevron, a maior empresa petrolífera dos Estados Unidos, deve obter a aprovação de Washington para expandir suas operações na Venezuela já no sábado. A aprovação permitiria produzir e exportar petróleo bruto, de acordo com um relatório da Reuters.
Como é a situação da Venezuela neste momento?
A Venezuela sofre um profundo declínio econômico desde 2014 devido à má gestão crônica e ao colapso do preço do petróleo, principal produto de exportação do país.
Em 2019, a crise se transformou em um conflito institucional total com dois líderes reivindicando a presidência do país, o homem forte Maduro e o líder da oposição Juan Guaidó.
Embora a presidência de Guaidó tenha sido reconhecida por mais de 50 países ao redor do mundo, incluindo os Estados Unidos, Maduro manteve o controle sobre as instituições do país e as Forças Armadas.
Uma recuperação nos preços do petróleo, reformas de liberalização e uma dolarização informal da economia da Venezuela aliviaram a crise econômica nos últimos meses, porém, mais de 80% dos venezuelanos ainda vivem abaixo da linha da pobreza, de acordo com uma pesquisa independente da Universidade Católica Andrés Bello em Caracas.
Analistas dizem que a economia do país já vinha sofrendo desde 2014, quando ainda não existiam as sanções. A chegada da hiperinflação no final de 2017 e o aprofundamento da crise econômica levaram cerca de sete milhões de venezuelanos a migrar para outros países, informou a Reuters.
Desde o final do ano passado, a economia se recuperou depois que o governo relaxou os controles sobre a economia em 2019 e permitiu transações em moeda estrangeira, dando oxigênio a vários setores, acrescentou a Reuters.
*Com informações de Karina Piarisi da CNN emEspanhol, Stefano Pozzebón da CNN em Bogotá e da Reuters.
Este conteúdo foi criado originalmente em espanhol.
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Fonte: CNN Brasil