O candidato da coalizão La Libertad Avanza, Javier Milei, surpreendeu e no domingo (13) se tornou o candidato mais votado nas eleições primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias (Paso, na sigla em espanhol) na Argentina.
Com mais de 97% das mesas apuradas, mais de 30% dos participantes nas primárias votaram no partido de Milei, quase dois pontos percentuais acima da coalizão de oposição Juntos por el Cambio e a cerca de três pontos da aliança oficial Unión por la Pátria.
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As principais propostas de Milei – economista que entrou na política argentina em 2020 – apontam para transformações que, se colocadas em prática, abrangeriam um período de mais de 30 anos, como as seguintes:
- Gradual dolarização da economia argentina;
- Redução do estado;
- Eliminação do Banco Central;
- Privatização das empresas públicas;
- Fim da indenização trabalhista por demissão;
- Desregulamentação da posse de armas;
- Militarização das prisões.
Destas, as cinco primeiras propostas são de natureza econômica e estão diretamente relacionadas à ideologia política que ele afirma abraçar, a de um “liberal libertário”.
O que é um “libertário liberal”?
O libertarianismo – termo que, como libertário, no passado estava reservado para o anarquismo, como ainda hoje pode ser visto no dicionário da Real Academia Espanhola – é uma corrente política com suas origens em um período anterior ao Iluminismo dos séculos 18 e 19. Conforme explica a Universidade de Barcelona (UB), suas raízes estão no individualismo político do século 17.
“Os libertários mantêm os valores liberais clássicos: o individualismo, a liberdade econômica e a defesa do mercado como a melhor ordem para a alocação de recursos e a concepção do estado policial”, cita a UB.
Portanto, o libertarianismo combina a defesa do indivíduo como entidade capaz de influenciar um sistema econômico com a reivindicação da força organizadora do mercado na economia nacional.
Economicamente, porém, a fonte de inspiração de Milei está mais próxima no tempo, remetendo à Escola Austríaca e a nomes relevantes dessa linha de pensamento na primeira metade do século 20, entre eles Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, segundo os quais o único caminho para entender os fenômenos sociais é através da compreensão das ações individuais.
Essas ideias tiveram alguns fiéis seguidores na Argentina. De fato, vários economistas, políticos e empresários identificados com a corrente se juntaram à força política de Milei, seja como candidatos ou como mentores de fundações ou centros de pesquisa.
Várias teorias da Escola Austríaca foram refutadas até mesmo por figuras altamente influentes na economia de mercado, como Milton Friedman, mas isso não diminuiu a influência de suas ideias no meio acadêmico americano e sua relevância nos debates teóricos sobre economia, particularmente na política monetária através dos bancos centrais.
Segundo a UB, essa ideia política busca alcançar a justiça social por meio do laissez faire no campo econômico, o que resultaria na implantação de um sistema econômico sem intervenção do Estado, ou seja, sem assistência social.
Segundo a universidade chilena Adolfo Ibáñez, o libertarianismo se opõe aos direitos sociais porque, segundo essa teoria, eles seriam uma forma de coerção do Estado contra as pessoas e, portanto, uma ameaça à liberdade individual.
Algumas das propostas de Milei, como a redução dos gastos do Estado, a privatização das empresas públicas e o fim das verbas rescisórias, estariam dentro da posição política libertária.
Mas, se o libertarianismo busca cortar benefícios sociais, qual é a forma que essa ideologia encontra para apoiar ou beneficiar as pessoas de baixa renda?
Baseando-se no individualismo, esta corrente política assume que, em um sistema capitalista, são os próprios indivíduos que se unem para “criar um sistema de cooperação”, como aponta o doutor em Ciências Sociais, Mauricio Torme, em seu artigo “Liberales? Sobre política e teoria nos libertários argentinos”, publicado em 2021 na revista Hic Rhodus, crise capitalista, polêmicas e controvérsias, da Universidade de Buenos Aires (UBA).
O libertarianismo é a antítese da teoria crítica marxista, para a qual o capitalismo é um sistema que oprime e aliena a sociedade.
“No capitalismo não manda ditador, não há hierarca que aponte as tarefas obrigando-as a serem cumpridas. Todas as pessoas são livres, se integram por vontade própria e criam um sistema de cooperação, dizem os libertários da Áustria”, explica Torme.
Vale destacar que uma das intelectuais que Milei citou mais de uma vez em suas redes sociais para defender sua posição é Ayn Rand, autora do romance “A Revolta de Atlas (1957)”.
O trabalho de Rand ajudou a popularizar o princípio libertário de que o interesse próprio é preferível ao altruísmo.
Galeria – Candidatos à Presidência da Argentina
Este conteúdo foi criado originalmente em espanhol.
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Fonte: CNN Brasil