O beija-flor ruivo é mágico. A garganta cintilante do macho brilha mais do que uma moeda de cobre brilhante e, como a maioria dos beija-flores, ele zumbe curiosamente no ar, pairando bem na frente dos humanos que o observam. A primeira vez que Mike Parr, presidente da American Bird Conservancy, viu um, ele estava se alimentando das flores de um limoeiro na Califórnia.

“Era apenas um daqueles lugares de outro mundo. Foi quase como uma experiência religiosa”, diz Parr com admiração e reverência.

“Quando eles apenas viram a cabeça e de repente sua garganta pega a luz, ela se ilumina com essa cor incrível. É simplesmente mágico, realmente. Ele simplesmente acende como um farol”.

Eles são um dos menores beija-flores com pouco mais de 7 cm de comprimento, mas um dos mais lutadores.

Eles voam impressionantes 6.200 km (só ida) do Alasca, onde vivem no verão, para o México, uma das viagens migratórias mais longas de qualquer ave do mundo em comparação com o tamanho do corpo, de acordo com o Laboratorio de Ornitología de Cornell.

Os californianos os apreciam na primavera e os residentes das Montanhas Rochosas no outono, pois os pássaros se alimentam de néctar de flores e pequenos insetos em prados de alta montanha, flores de quintal e comedouros de pássaros.

Mas o beija-flor ruivo, como centenas de outras espécies, está à beira do abismo.

Os pássaros são o “canário em uma mina de carvão”

O beija-flor ruivo perdeu dois terços de sua população desde 1970, de acordo com o relatório State of the Birds de 2022.

Essas minúsculas criaturas são uma das 70 espécies de aves na lista do “Ponto da Virada” que perderão outros cinquenta por cento de suas populações no mesmo período se a conservação não melhorar. Essa lista inclui belezas voadoras como o rouxinol dourado com seu impressionante gorro amarelo e máscara preta.

As razões, ditas científicas, são múltiplas: perda de habitat pela mudança climática e desenvolvimento humano, colisões contra vidros, espécies invasoras (gatos domésticos) e pesticidas; muitas das muitas razões pelas quais toda a vida silvestre a nível mundial colapsou.

Então, por que devemos nos preocupar com o desaparecimento dos pássaros? Uma razão, diz Parr, é que suas perdas são um prenúncio do que os humanos enfrentam também.

“Os pássaros são o canário na mina de carvão”, diz Parr. “Estamos vendo evidências de colapso ecológico na América do Norte, evidenciado pela perda de pássaros”.

Os pássaros dependem da natureza assim como nós: pelo ar que respiramos, pela água que bebemos, pela comida que comemos, diz Parr. À medida que eles perdem seu habitat, de grandes massas de floresta nativa a campos abertos, de pantanais a brejos, também estamos perdendo esses recursos.

“Então, quando as coisas começarem a desmoronar, se a biodiversidade e as mudanças climáticas se desfizerem simultaneamente, o mundo natural ao nosso redor, do qual tanto dependemos, pode não ser tão confiável quanto gostaríamos que fosse”.

Uma segunda razão: as aves são essenciais para o nosso ecossistema. Elas polinizam as flores e dispersam as sementes. Se alimentam de insetos e roedores, mantendo essas populações sob controle.

“Não queremos ver os pássaros desaparecerem. Então, em vez de esperar até o último segundo, do ponto de vista da conservação, você simplesmente não quer ver o pássaro chegar lá em primeiro lugar”, diz Parr. “Infelizmente, a vida selvagem não tem voz própria”.

Coisas que você pode fazer para ajudar a salvar as aves da extinção

Problema: Colisões contra vidro
Solução: Vidro ou decalques adequados para pássaros

Quase um bilhão de pássaros são mortos a cada ano nos Estados Unidos devido a colisões contra vidros. Os pássaros veem um reflexo do céu e das árvores e pensam que é um habitat para o qual podem voar. Eles atingem não apenas arranha-céus de escritórios, mas também as janelas das casas.

Na verdade, quase metade de todas as colisões ocorre nas janelas das casas, de acordo com a American Bird Conservancy. As colisões são mais frequentes durante a migração de primavera e especialmente no outono, mas ocorrem durante todo o ano.

A boa notícia é que existem maneiras de evitar essas mortes. Você pode adicionar decalques transparentes ou descascados às suas janelas. A maioria reflete a luz ultravioleta, que não podemos ver, mas realmente se destaca para a maioria das aves. Você não precisa colocá-los em todas as janelas, diz Parr.

“Geralmente você pode identificar as janelas que são as mais problemáticas”. A American Bird Conservancy tem laboratórios que testaram os produtos e os consideraram seguros para as aves.

Além disso, se você estiver construindo uma nova casa ou instalando janelas, poderá instalar vidros à prova de pássaros. Muitos grupos de observação de pássaros estão trabalhando nacionalmente para promover projetos de construção amigáveis aos pássaros e noites de “blecaute” durante períodos de alta migração.

Problema: Pesticidas/grama ruim no habitat
Soluções: Horta orgânica, plantio de vegetação nativa, reserva de áreas silvestres

Muitos pássaros comem insetos, mas o grande declínio nas populações de insetos em todo o mundo torna os alimentos mais escassos. Parr diz que, em vez de pesticidas e herbicidas, deixe os pássaros fazerem seu trabalho comendo insetos e sementes de grama em seu quintal.

“Os pássaros são pesticidas muito bons”, diz Parr. “Eles comem muitos insetos. Incentive os pássaros”.

Em uma escala maior, os grupos de conservação estão lutando contra o uso de neonicotinóides, ou “neônicos”, um pesticida usado não apenas nas plantações, mas transformado em sementes e usado em algumas plantas de jardim.

“Está impedindo que os pássaros se alimentem. Se um pássaro comer a semente, pode haver o suficiente para envenená-lo. Mas o maior efeito é a falta de insetos”. Parr diz que é importante olhar os rótulos ao comprar produtos para o seu gramado ou perguntar às empresas de paisagismo o que há nos produtos que eles usam.

Você pode criar mais habitat para pássaros plantando espécies nativas e não sobrecarregando seu quintal.

“Os pássaros procuram comida em pequenos cantos e recantos. Eles gostam de se refugiar, precisam de um lugar para se esconder dos predadores”.

Parr diz que isso significa deixar as folhas para trás e não ser tão rápido em derrubar árvores ou madeira morta se não causarem problemas de segurança. Os pica-paus os amam e os pica-paus ruivos também estão estão diminuindo rapidamente.

“Temos uma obsessão por cortar a relva e manter tudo arrumado. A natureza não é ordenada e, portanto, se você tolerar alguma bagunça em seu jardim, talvez encontre uma parte dele que deixe ser nativo e deixe a grama crescer um pouco. Isso será melhor para a vida selvagem, especialmente se você não estiver usando pesticidas”.

“A natureza é desordenada. Que seja assim então. Tem uma beleza aí”.

Nos últimos anos, paisagistas preocupados com a conservação propuseram novas visões de como os jardins podem ser. Eles estão muito longe da aparência de tapete verde suburbano dos gramados bem cuidados e sedentos de água da década de 1950. Isso é especialmente verdadeiro no oeste, em lugares como Arizona e Califórnia, onde eles estão lidando com secas cada vez maiores.

Problema: Espécies Invasoras – Gatos ao ar livre
Solução: Mantenha seu gato dentro de casa

Gatos domésticos soltos representam uma séria ameaça à vida selvagem nativa, de acordo com vários estudos do USDA e cientistas conservacionistas de todo o mundo. Eles matam cerca de 2,4 bilhões de pássaros a cada ano apenas nos EUA, de acordo com a American Bird Conservancy.

Vários grupos de conservação de aves dizem que a predação por gatos é de longe a maior fonte de mortalidade direta de aves causada pelo homem. “Gatos e colisões são os dois que mais matam pássaros a cada ano”, diz Parr.

Mas podemos fazer algo a respeito. “Mantenha seu gato dentro de casa. Muitas vezes é muito difícil encorajar seus vizinhos a manter o gato dentro de casa, mas você pode tentar”.

Grupos de conservação incentivam cercas especiais para evitar que os gatos se afastem muito. Também recomendam os “catios”, pátios ao ar livre onde ficam os gatos. Existem produtos que você pode aplicar em gatos que tornam muito mais difícil para eles perseguirem suas presas.

Nem tudo é pessimismo

Os defensores trabalham todos os dias para salvar o habitat em nível macro nos EUA e em todo o mundo. Fruto de parcerias público-privadas, conseguiram aumentar as populações de patos, gansos e cisnes nos últimos vinte anos através da proteção e limpeza de bacias hidrográficas e zonas úmidas.

Esses movimentos também beneficiam os seres humanos, proporcionando mais áreas de escoamento de água, menos inundações e águas subterrâneas mais limpas.

Você também pode ajudar a lutar pela sobrevivência das espécies de aves doando para estes grupos: American Bird Conservancy, National Audubon Society e International Bird Rescue.

“Temos alguma responsabilidade de administrar o planeta como o encontramos”, diz Parr. “Estamos expandindo nossas influências, mudando a natureza do planeta Terra e sinto que todos temos a responsabilidade de não estragar tudo completamente. Cada um tem que fazer a sua parte”.

Este conteúdo foi criado originalmente em espanhol.

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Fonte: CNN Brasil