O balanço final da montagem do governo Lula após a posse tem sido alvo de críticas por parte de petistas com que a CNN conversou nos últimos dias.
O principal ponto levantado é a forma como foi fechada a aliança com o União Brasil.
O partido ganhou três ministérios mas não garantiu o apoio formal das bancadas na Câmara e do Senado.
A leitura de parte do partido é de que o a sigla deverua ter fechado um acordo não só com o líder do União Brasil no Senado, Davi Alcolumbre, mas também com o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento.
Elmar foi preterido após, segundo intercolutores de Lula, petistas terem mostrado ao presidente vídeos dele xingando Lula.
Setores do PT agora tentam corrigir o erro buscando diálogo com Nascimento. A ideia em curso é oferecer a ele a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), mesmo órgão que foi oferecido a ele pelo presidente Jair Bolsonaro.
A nomeação de Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho, para o Ministério do Turismo também foi considerada por uma fonte petista feita “às cegas”, sem avaliação prévia de suas ligações com bolsonaristas no Rio de Janeiro.
A Folha de S.Paulo revelou ligação de Daniela com acusados de integrar milícias. O episódio tem causado desgaste ao governo.
O problema com o partido influi agora na ideia do governo de montar um bloco de maioria para a sucessão na Mesa Diretora da Câmara.
Embora o apoio à reeleição de Arthur Lira (PP) seja considerado indiscutível por petistas, o partido deseja montar um bloco com todos os partidos que integram a base para que tenha preferência nas pedidas dos principais cargos na Câmara.
A conta é que, somados, haveria 272 deputados no bloco.
No entanto, como houve problemas na estruturação da base com o União Brasil, há risco de a legenda ficar mesmo no boco de Lira, o que faria o PT não ser atendido com pedidos como a vice-presidência da Câmara e a Comissão de Constituição e Justiça.
O partido já escolheu a deputada Maria do Rosário para ocupar um cargo na Mesa.
As três pastas ao PSB também são objeto de crítica (Justiça com Flavio Dino; Indústria e Comércio com Geraldo Alckmin; Portos e Aeroportos com Márcio França), pois a legenda tem 14 deputados eleitos “apenas”, segundo alguns interlocutores.
A leitura é que o “excesso” de certos aliados que não garantem todos os votos — como o União Brasil — ou que tem poucos votos, como o PSB, acabaram preteridos, como o PV e o Solidariedade.
Além disso, há a percepção em parte do partido de que distribuição interna de cargos para o PT também deixou uma leva de insatisfeitos internamente e expôs as disputas internas da legenda, além de ter ocorrido oportunidades perdidas para contemplar aliados e dar mais segurança a base no Congresso.
Por exemplo: a ida do paulista Paulo Teixeira para o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) no lugar do mineiro Reginaldo Lopes. Ou a ida do tesoureiro do partido Marcio Macedo para a Secretaria-Geral da Presidência no lugar de Emídio de Sousa.
Há uma percepção de que a composição acabou privilegiando o PT de São Paulo, que fez três deputados federais ministros (Paulo Teixeira, Alexandre Padilha e Luiz Marinho), em detrimento do PT mineiro. Isso a despeito de Minas Gerais ter sido mais decisiva para a eleição de Lula do que São Paulo.
O desenho é colocado na conta de Lula, que colocou dentro do palácio do Planalto apenas os petistas com quem têm maior ligação e ainda abriu espaço para que Vicentinho, político ligado ao meio sindical e amigo do presidente, conseguisse assumir o mandato de deputado. Suplente, Vicentinho assume agora como deputado federal na cadeira de Paulo Teixeira.
E também na conta de Gleisi Hoffmann, que, ao bancar Paulo Teixeira em um ministério, abriu espaço para indicar alguém para seu lugar na Executiva do PT.
A ida de três senadores para o ministério também tem sido criticada. Desde o ano passado, havia uma ideia do governo eleito de reforçar o Senado, Casa para a qual muitos bolsonaristas se elegeram.
No entanto, Flavio Dino, Wellignton Dias e Camilo Santana acabaram assumindo cargos no primeiro escalão e deixando o Senado para seus suplentes.
Isso abriu espaço para a liderança do governo ser ocupada por Randolfe Rodrigues (Rede), considerado por parte dos petistas como alguém não pragmático.
O primeiro ruído ocorreu nesta semana, quando Randolfe falou que partidos aliados tinham obrigação de votar com o governo. Acabou desmentido.
Em linhas gerais, não há sensação de que o formato final trará instabilidade ao governo, mas de que se não houver acertos na coalizão ainda em janeiro, obrigará o governo a fazer negociações pontuais com o Congresso de acordo com cada votação relevante.
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Fonte: CNN Brasil