A mãe da estudante Selena Sagrillo, uma das vítimas do ataque a escolas em Aracruz, no Espírito Santo, publicou uma carta em que lamenta e relata o luto pela perda da filha que havia completado 12 anos.
Na carta, a mãe, Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto, pede amor, piedade e segurança para crianças. “Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser”, diz o texto.
Ela lamenta ainda os sonhos da filha que foram interrompidos pelo atentado e diz esperar que a morte da filha seja “o início de uma nova revolução”.
“Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença”.
Selena foi uma das quatro vítimas confirmadas nos ataques que ocorreram na sexta-feira (25), quando um jovem aramado efetuou disparos contra professores e crianças nas escolas Primo Bitti e Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), ambas no bairro Coqueiral.
No sábado (26), a Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) informou que o adolescente, de 16 anos, apreendido em Aracruz, responderá por ato infracional análogo aos crimes de 10 tentativas de homicídio qualificado e três homicídios qualificados, todos com impossibilidade de defesa da vítima.
Leia a carta na íntegra:
Escrevo este texto do computador e quarto de minha filha Selena, que agora amargam sua ausência. Escrevo, pois não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar.
O lamento, a dor e angústia que estavam no meu peito antes, agora, começam a dar lugar ao sentimento de entendimento, aceitação e saudade. Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que falou tão profundamente em meu coração que não consigo deixar de compartilhar com vocês, que tanto estão nos dando forças neste momento. O texto dizia:
“Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a escola que cresci depois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai um dia que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo.”
Realmente o dia estava próximo para minha filha. Havia 1 mês e cinco dias que ela havia completado 12 anos. O dia de sua morte, dia 25/11, foi também o dia do aniversário de meu pai, e seu avô José. Dia 01/12 será aniversario de seu outro avô, Laudérico. Daqui a trinta dias será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da copa do mundo e nunca mais se empolgará com um gol como aquele do Richarlyson, que ela achou “incrível”.
Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror. Não venho aqui clamar por retaliação, pois de ódio, estou farta.
Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas de todos os desterros do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos.
Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença.
Esse é um lamento e um grito de uma mãe que padece com a perda de uma filha. Peço que nos mandem orações, amor, energias boas, seja qual for sua crença. Que o mundo se una pela Selena, assim como ela escreveu em seu texto, e por tantas outras Selenas pelo mundo.
Ass. Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto
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Fonte: CNN Brasil