Em sua tradicional e aguardada carta anual a investidores, o bilionário e guru de investimentos Warren Buffett incluiu, neste ano, uma nota de repúdio à “contabilidade criativa” promovida por executivos e disse que essa prática adotada por empresas “se tornou uma das vergonhas do capitalismo”.
Ele também criticou a cultura que exalta o crescimento “acima das expectativas” e a colocou como um dos fatores que induzem a essas maquiagens contábeis.
Buffett, aos 92 anos, é CEO da Berkshire Hathaway, um dos mais tradicionais grupos de investimentos dos Estados Unidos. Sua carta, divulgada no último fim de semana, integra o relatório de resultados anuais da empresa.
Embora não cite diretamente, e também não haja registro de qual seja seu grau de conhecimento sobre o caso brasileiro, o breve comentário de Buffett foi diretamente ligado, por analistas aqui do Brasil, ao recente escândalo da Americanas, que anunciou em janeiro a descoberta de uma sucessão de erros contábeis que esconderam um dívida, depois, declarada em mais de R$ 40 bilhões.
Em um intervalo de poucos dias do anúncio a varejista deu início ao seu processo de recuperação judicial.
“Por fim, um alerta importante”, escreveu Buffett; “Mesmo o valor do lucro operacional que valorizamos pode ser facilmente manipulado pelos gestores que assim o desejarem. Essa adulteração costuma ser considerada sofisticada por CEOs, diretores e seus assistentes. Repórteres e analistas também aceitam sua existência. Superar as ‘expectativas’ é anunciado como um triunfo de gestão.”
E o texto continua: “Essa atividade é nojenta. Não é necessário talento para manipular números: é necessário apenas um profundo desejo de enganar. A ‘ousada contabilidade criativa’, como um CEO certa vez me descreveu, tornou-se uma das vergonhas do capitalismo”.
Buffett não tem relação direta com a Americanas, mas tem negócio com seus sócios: a Berkshire possui participação na gigante internacional de alimentos Kraft Heinz, ao lado da 3G Capital, a dona das Americanas.
O grupo de investimentos é controlado pelos sócios Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Eles alegam que não tinham conhecimento das falhas contábeis reveladas nas Americanas.
*Publicado por Juliana Elias
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Fonte: CNN Brasil